AS MULHERES E O CARGO DE PASTORA
Ponto crucial apresentado como impedimento para a mulher
assumir o ministério ordenado – de Pastora - no debate que se trava no âmbito
do feminismo teológico, tem sido o de que a mulher não tem uma “semelhança
natural” com a masculinidade de Cristo. O Vaticano lançou mão desse argumento, em
1977, para proibir a ordenação de mulheres na Igreja Católica. Aliás,
ratificando a proibição que, há milênios, subsiste dentro do catolicismo. As
igrejas evangélicas mais tradicionais, ao apresentarem, inclusive, argumentos
que corroboram na interdição da mulher ao ministério ordenado, não ficam muito
distantes, nesse aspecto, da doutrina católica.
Elisabeth Fiorenza, teóloga católica, dando murro em ponta de
faca, como diz o ditado, contesta o ponto de vista do Vaticano, observando no
que ele implica:
Ou as mulheres não podem ser batizadas porque no batismo os
cristãos se tornam membros do corpo (masculino) de Cristo ou nós não permanecemos
mulheres porque os batizados se conformaram ao “homem perfeito”, em ambos os
casos, uma tal teologia nega a universalidade da encarnação e da salvação a
fim de manter e legitimar as estruturas patriarcais da Igreja.
Sem dúvida, conclusão irrepreensível; uma vez que a
mencionada teoria deriva de uma proposição falaciosa, a sua conclusão só
poderia ser igualmente falsa, tal qual a teóloga aponta. Isso sucede porque –
agora, entramos no universo evangélico- protestante - os antifeministas,
chamados de complementaristas, colocam uma questão de caráter ontológico, ou
seja, a semelhança de Cristo, num plano de natureza biológica, a masculinidade
de Jesus. Como de costume, esse é um apelo discriminatório baseado no gênero;
puro sexismo.
Outro teólogo, Stanley Grenz, faz menção à variedade de
papéis que o ministério ordenado inclui, ressaltando que nenhum deles é mais
importante e problemático para as mulheres do que o cargo representativo:
Muitos consideram as pessoas ordenadas como representativas
em certo sentido. O clero representa Cristo para a congregação; a Igreja local
para a comunidade mais ampla; e também a Igreja para o mundo.
Aos que se opõem à ordenação da mulher, tanto católicos
quanto evangélicos tradicionais, fundamentados na (pseudo) impossibilidade da
representatividade feminina, Stanley Grens manda um recado, no qual apresenta
um argumento bastante criativo:
Não existe uma razão óbvia para o gênero impedir que a pessoa
represente uma congregação local na comunidade maior ou represente a Igreja na
sociedade. De fato, desde que a Igreja é a noiva de Cristo, podemos concluir
que essas tarefas são mais bem desempenhadas por ministras, pois só as
mulheres podem ser noivas.
Outro aspecto do problema equacionado pelos teólogos, agora,
de maneira mais específica, refere-se ao fato de os ministros ordenados
representarem Cristo na celebração da Ceia do Senhor (a Eucaristia). Motivo, segundo
eles, mais que suficiente para impedir as mulheres de receber a ordenação
ministerial, porque a pessoa ordenada teria que ter uma semelhança biológica
com Jesus. Outrossim, afirmam que quem oficia na Eucaristia é o representante,
ou mesmo a representação de Cristo. Não é demais frisar que tanto católicos
como evangélicos pertencentes às igrejas chamadas históricas, aderiram a essa
teoria.
Na Ceia do Senhor, que constitui a representação da Última
Ceia, o Pastor realmente desempenha o papel de Jesus falando as mesmas palavras
e repetindo os mesmos atos do Senhor, tal qual Ele o fez naquela ocasião. Quando
estavam todos assentados à mesa, comendo, tomou Jesus o pão e, abençoando-o, o
partiu e deu-lho, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E, tomando o
cálice, e dando graças, deu-lho; e todos beberam dele. E disse-lhes: Isto é o
meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que por muitos é derramado (Marcos 14.
22, 23, 24).
Muitos pensam que só um homem poderia representar esse papel
mais adequadamente do que uma mulher. Aparentemente, sim. Todavia,
aprofundando-se mais na questão, alguns teólogos chegam a uma conclusão diferente,
tal como Mark E. Chapman. Ele afirma que o ministro do sacramento representa
Cristo oralmente e não corporalmente. E que é a Palavra dita pelo ministro, e
não a pessoa dele, que determina a validade do sacramento:
Desse modo, um ministro adequado do sacramento, aquele cujo
ministério torna o sacramento válido e eficaz, não é alguém cuja pessoa representa
Cristo, mas alguém cuja Palavra, cuja proclamação, fala a Palavra de Cristo. (CONTINUA).
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