sábado, 18 de abril de 2015

Trecho extraído do livro Mensageiras da Ressurreição


                                         A MULHER ESTEJA CALADA

Em meio às controvérsias que o tema da liderança feminina suscita, os cristãos encontram-se divididos em dois grupos bem distintos. Divisão que atinge, igualmente, as classes teológica e pastoral. Contudo, a maior tendência nos dias atuais é pelo reconhecimento do direito da mu­lher de exercer, tal como o homem, todos os ministérios conforme acontecia nos primórdios do cristianismo.

Stanley J. Grenz, teólogo, classifica os representantes das duas correntes em igualitários e complementaristas.

Os primeiros, favoráveis ao pleno direito da mulher de exercer o ministério eclesial em toda a sua dimensão, assim como era nos tempos apostólicos: as apóstolas mi­litando no trabalho do Senhor ombro a ombro com os apóstolos.

Os segundos delimitam o campo da ação missionária da mulher e o seu espaço na igreja. Costumam vê-la apenas como apoiadora do trabalho do homem, complementando-o. Isso significa dizer, nunca ocupando cargo de liderança – mas, cedem a ela um pouquinho mais de espaço, em relação ao que ocupavam na sinagoga do passado.

No universo complementarista vicejam as doutri­nas criadas sobre alguns textos das cartas paulinas, que tentam colocar impedimento ao livre exercício do traba­lho da mulher na Igreja. Criar doutrinas, neste caso, sig­nifica extrair textos da Bíblia e interpretá-los livremente fora do seu contexto, sem levar em conta as injunções so­ciais e o momento histórico em que ocorreram. Conclu­são tendenciosa que apresenta um resultado bem diverso do verdadeiro sentido bíblico. Tais doutrinas tendem a valorizar ordenanças que foram direcionadas a solucio­nar problemas momentâneos e específicos da Igreja pri­mitiva como se tivessem valor perpétuo - o que acontece ao descontextualizá-las.

Nosso foco, agora, volta-se para o texto mais usado por eles para manter a mulher marginalizada dentro da Igreja: “As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a Lei. E, se querem aprender alguma coisa, interro­guem em casa a seus próprios maridos; porque é indecente que as mulheres falem na igreja.” (1 Coríntios 14. 34-35).

Mas, não há motivo para desespero! Vejamos a opi­nião de um ilustre igualitário, grande defensor da liber­dade feminina, Duncan A. Reily, que foi catedrático de História Eclesiástica na Faculdade de Teologia Metodista. Suas pesquisas levaram-no a concluir categoricamente:

Afirmo que algumas mulheres, em muito maior número do que geralmente se suspeita, exerceram qua­se todos, senão todos, os ministérios que seus irmãos em Cristo desempenharam.

Podemos acrescentar que, certamente, não o fize­ram silenciosamente, mas, pregando a Palavra com auto­ridade e ensinando com plena liberdade.

Os que se prendem, literalmente, às palavras de Paulo, mencionadas acima, insistem em não observar as conjunturas sociais que compeliram o apóstolo a pro­nunciá-las. Não observaram os problemas que a Igreja enfrentava naquele momento. As duas frases (vv.34-35) foram proferidas em um momento em que o apóstolo buscava disciplinar o comportamento da congregação na adoração cultual, ao tratar da necessidade de ordem no culto: Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos. (v.33).

As recomendações sobre o silêncio das mulheres na igreja, segundo o modo de ver igualitário, incluem-se entre as de caráter temporário. Destinavam-se, espe­cialmente, a solucionar mais um problema, dentre tantos outros com os quais Paulo teve de se defrontar concer­nentes à igreja de Corinto. Igreja que causou ao após­tolo incontáveis preocupações, devido às circunstâncias sociais não serem nada favoráveis ao desenvolvimento do cristianismo. Localizada na cidade conhecida por sua proverbial imoralidade, na qual imperavam as práticas pagãs da sociedade grega, Paulo lutava para fazer sobres­sair a pureza dos costumes cristãos em seu meio. A de­pravação em Corinto era de tal monta que a expressão “viver à moda de Corinto” significava viver na imorali­dade e na degradação moral. A palavra korinthiazomai significava praticar imoralidade e, korinthiastis era sinô­nimo de meretriz. No topo de uma montanha chamada Acrocorinto, localizada atrás da cidade, encontrava-se o templo de Afrodite, ou Vênus, a deusa do amor. A dis­solução moral de Corinto devia-se justamente ao culto à deusa.  (CONTINUA.)

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