A MULHER ESTEJA CALADA
Em meio às
controvérsias que o tema da liderança feminina suscita, os cristãos
encontram-se divididos em dois grupos bem distintos. Divisão que atinge,
igualmente, as classes teológica e pastoral. Contudo, a maior tendência nos
dias atuais é pelo reconhecimento do direito da mulher de exercer, tal como o
homem, todos os ministérios conforme acontecia nos primórdios do cristianismo.
Stanley J. Grenz, teólogo,
classifica os representantes das duas correntes em igualitários e
complementaristas.
Os primeiros,
favoráveis ao pleno direito da mulher de exercer o ministério eclesial em toda
a sua dimensão, assim como era nos tempos apostólicos: as apóstolas militando
no trabalho do Senhor ombro a ombro com os apóstolos.
Os segundos delimitam
o campo da ação missionária da mulher e o seu espaço na igreja. Costumam vê-la
apenas como apoiadora do trabalho do homem, complementando-o. Isso significa
dizer, nunca ocupando cargo de liderança – mas, cedem a ela um pouquinho mais
de espaço, em relação ao que ocupavam na sinagoga do passado.
No universo
complementarista vicejam as doutrinas criadas sobre alguns textos das cartas
paulinas, que tentam colocar impedimento ao livre exercício do trabalho da
mulher na Igreja. Criar doutrinas, neste caso, significa extrair textos da
Bíblia e interpretá-los livremente fora do seu contexto, sem levar em conta as
injunções sociais e o momento histórico em que ocorreram. Conclusão
tendenciosa que apresenta um resultado bem diverso do verdadeiro sentido
bíblico. Tais doutrinas tendem a valorizar ordenanças que foram direcionadas a
solucionar problemas momentâneos e específicos da Igreja primitiva como se
tivessem valor perpétuo - o que acontece ao descontextualizá-las.
Nosso foco, agora,
volta-se para o texto mais usado por eles para manter a mulher marginalizada
dentro da Igreja: “As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é
permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a Lei. E, se querem
aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é
indecente que as mulheres falem na igreja.” (1 Coríntios 14. 34-35).
Mas, não há motivo
para desespero! Vejamos a opinião de um ilustre igualitário, grande defensor
da liberdade feminina, Duncan A. Reily, que foi catedrático de História
Eclesiástica na Faculdade de Teologia Metodista. Suas pesquisas levaram-no a
concluir categoricamente:
Afirmo que algumas
mulheres, em muito maior número do que geralmente se suspeita, exerceram quase
todos, senão todos, os ministérios que seus irmãos em Cristo desempenharam.
Podemos acrescentar
que, certamente, não o fizeram silenciosamente, mas, pregando a Palavra com
autoridade e ensinando com plena liberdade.
Os que se prendem,
literalmente, às palavras de Paulo, mencionadas acima, insistem em não observar
as conjunturas sociais que compeliram o apóstolo a pronunciá-las. Não
observaram os problemas que a Igreja enfrentava naquele momento. As duas frases
(vv.34-35) foram proferidas em um momento em que o apóstolo buscava disciplinar
o comportamento da congregação na adoração cultual, ao tratar da necessidade de
ordem no culto: Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas
as igrejas dos santos. (v.33).
As recomendações sobre
o silêncio das mulheres na igreja, segundo o modo de ver igualitário,
incluem-se entre as de caráter temporário. Destinavam-se, especialmente, a
solucionar mais um problema, dentre tantos outros com os quais Paulo teve de se
defrontar concernentes à igreja de Corinto. Igreja que causou ao apóstolo
incontáveis preocupações, devido às circunstâncias sociais não serem nada
favoráveis ao desenvolvimento do cristianismo. Localizada na cidade conhecida
por sua proverbial imoralidade, na qual imperavam as práticas pagãs da
sociedade grega, Paulo lutava para fazer sobressair a pureza dos costumes
cristãos em seu meio. A depravação em Corinto era de tal monta que a expressão
“viver à moda de Corinto” significava viver na imoralidade e na degradação
moral. A palavra korinthiazomai significava praticar imoralidade e,
korinthiastis era sinônimo de meretriz. No topo de uma montanha chamada
Acrocorinto, localizada atrás da cidade, encontrava-se o templo de Afrodite, ou
Vênus, a deusa do amor. A dissolução moral de Corinto devia-se justamente ao
culto à deusa. (CONTINUA.)
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