sábado, 14 de março de 2015

Trecho extraído do livro Mensageiras da Ressurreição


                                                 PATRONAS E AS IGREJAS DOMÉSTICAS                            
No Novo Testamento, cinco entre seis passagens que falam sobre igrejas domésticas, mostram mulheres na sua liderança e organização. E não há como contestar que servir como patrona de uma congregação local in­cluía certas responsabilidades de liderança e autoridade, como indica 1 Coríntios 16.15-19.
Em meio aos vários registros de mulheres que or­ganizaram e lideraram comunidades em suas próprias casas, encontramos o de uma mulher chamada Ápia (Fi­lemom 1.2), em Colossos, liderando a comunidade local juntamente com Filemon e Arquipo. Em Laodicéia, era na casa de Ninfa (Colossenses 4.15) que a igreja se reu­nia. A atuação de Priscila, como patrona destaca-se pela amplitude, como é sabido, pois exercia um ministério itinerante e, nas localidades por onde passava e residia, acolhia a Igreja em sua casa. (Romanos 16.3-5; 1Corín­tios 16.19; Atos 18. 1-2).
Além dos já citados, são diversos os nomes de ou­tras patronas, que aparecem como mantenedoras ou fun­dadoras de igrejas domésticas. O nome de Cloé (1 Corín­tios 1.11) é um deles; o de Lídia, vendedora de púrpura outro. Além de patronas, não é demais frisar, que as mu­lheres exerciam autoridade, na comunidade cristã, como mestras e cooperadoras. Ademais, a casa de Lídia foi o ponto de irradiação do evangelho em Filipos, (At 16.15).
Em Jerusalém, era na casa de Maria, mãe de João Marcos, que a congregação se reunia. (Atos 12.12). Foi nela que o apóstolo Pedro se refugiou após a fuga mila­grosa da prisão. (Atos 12. 7-11). Todos na casa, oravam pela sua libertação, de repente, uma jovem, chamada Rode, avisou que Pedro se encontrava batendo à porta do pátio. Ninguém deu crédito ao que a jovem dizia, pois, consideravam que estava fora de si. Finalmente, certifi­caram-se de que era verdade (Atos 12.13-16). Desse epi­sódio podemos tirar duas conclusões. A primeira: por não darem crédito à palavra da jovem, demonstraram a pouca confiança que merecia a palavra de uma mulher. A segunda, o exemplo de que as casas das mulheres cristãs, além de constituírem-se em igrejas domésticas (todos es­tavam orando) representavam abrigos seguros, nas quais, muitas vezes, cristãos perseguidos refugiaram-se.
O que ressalta na narrativa, porém, é a lição de co­ragem de Maria, a mãe de João Marcos. Ela não temeu expor-se ao perigo de receber Pedro em sua casa, embora o apóstolo fosse considerado foragido da justiça romana, em época de inclemente perseguição aos cristãos. Sem temor, Maria transformara sua casa num ponto de reu­nião da cristandade para os cultos a Deus, e em um local para acolher os discípulos perseguidos. O ato de coragem se reveste de maior grandeza quando lembramos que ha­via a instituição da pena de morte, na perseguição aos cristãos, que teve início, primeiramente, por parte dos judeus e, posteriormente, por parte do governo romano. Ameaças surgiam de todos os lados, assombrando o dia-a-dia da cristandade que, apesar de todo o perigo, pros­seguia indômita na tarefa missionária.
As igrejas domésticas, conforme ensina a Histó­ria bíblica, constituíram a célula básica do movimento cristão. Foi lançando mão desse recurso que a Igreja se expandiu em função do trabalho de missionárias e mis­sionários itinerantes. De cidade em cidade, os discípu­los dependiam da acolhida desses núcleos domésticos para dar-lhes hospitalidade e abrigá-los nos momentos de perigo. Eram acolhidos, ainda que os proprietários das casas não os conhecessem, os quais para recebê-los confiavam apenas nas cartas de recomendação das igre­jas donde os apóstolos provinham, ou pela fama que os precedia como diligentes servos de Deus.

As protetoras da Igreja em seus primeiros passos, na realidade, fundadoras de igrejas, receberam o reconheci­mento de Paulo de maneira efusiva como demonstram as suas cartas. O apóstolo foi pródigo e insistente em apelos para que todos os cristãos lhes manifestassem os mesmos sentimentos de gratidão - que ainda hoje se fazem ouvir. Convém, portanto, atentar para a realidade histórico-cristã, não deixando que a poeira do tempo empane o brilho dos feitos grandiosos e heroicos das primeiras dis­cípulas, não permitindo que seus nomes venham a cair no esquecimento. Além do mais, vale lembrar que a falta de memória é a raiz de toda opressão. (CONTINUA).

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