domingo, 28 de setembro de 2014

Trecho extraído do livro Mensageiras da Ressurreição

                                                     MÁRTIRES CRISTÃS

O relato da perseguição aos cristãos, após a ascensão de Cristo, e durante os primeiros séculos, possui um lado que ainda carece ser mais conhecido e avaliado. Referimo-nos ao lado feminino dessa História. O silêncio, como um manto de ferro, sob o qual se oculta esse episódio ainda não foi removido totalmente para que se possa observar toda a dimensão de seu caráter heroico. Porquanto tal como o homem, a mulher suportou perseguição, tortura e chegou a morrer por não renegar a fé em Cristo, naqueles tempos difíceis para a Igreja. Além de ajudar os irmãos perseguidos, as mulheres foram igualmente encarceradas, padecendo nas prisões como a própria Bíblia relata. Não pode ser esquecido que muitas delas não temeram acompanhar os passos de Jesus até o Calvário e durante a crucificação. Além do mais, no domingo de Páscoa, de madrugada, já estavam postadas diante do túmulo de Jesus.

Será que não temiam ser apontadas como pertencentes ao grupo dos seus seguidores? Visto que, dificilmente os que crucificaram a Jesus deixariam em paz seus seguidores, mormente estes anunciando a ressurreição de seu mestre. Desabou sobre as cabeças dos discípulos e das discípulas a perseguição já prevista por Jesus, primeiro por prisões, ameaças e, logo depois, pela própria morte.

Posteriormente, por ocasião da morte de Estevão, o primeiro mártir cristão, iniciou-se a dispersão dos cristãos sob a perseguição dos judeus, que os levou a fugir para outras cidades. Pelo exemplo de Saulo, pode-se observar que a perseguição não se restringia apenas aos homens, mas, atingia igualmente homens e mulheres. Saulo assolava a Igreja, entrando pelas casas: e, arrastando homens e mulheres, os encerrava na prisão. (Atos 8.3)

Referindo-se ao texto, bem como a Atos 9.1-2 e 22.4, onde se encontra menção clara sobre a violência que atingiu também as mulheres, o pesquisador Witherington III, observa: As mulheres da igreja de Jerusalém desempenharam um papel tão vital que sofreram perseguição juntamente com os homens. Ele amplia suas considerações a respeito das duas passagens bíblicas declarando:

Isto deve deixar implícito para os leitores de Lucas que as mulheres tinham bastante significado, em número e/ou importância para a causa do Caminho, a ponto de Saulo pensar que não podia acabar com o movimento sem prender tanto mulheres como homens.

É interessante, também, observar, integralmente o texto de Atos (9. 1,2): E Saulo, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote e pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, se encontrasse alguns daquela seita, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém.

Seguindo-se à perseguição movida pelos judeus, nos séculos seguintes e até quando o governo de Constantino descriminalizou o cristianismo, o governo de

Roma, também, resolveu estender seus tentáculos, em direção aos cristãos em cruenta e tenaz perseguição. Não se pode afirmar, contudo, que todos os imperadores romanos perseguiram os cristãos com o mesmo grau de crueldade e intensidade. A História aponta o ano de 64 como o do início da grande caçada ao povo de Deus, pelos romanos, em sequência à perseguição movida pelos judeus. É relatado, ainda, que Nero, imperador romano, após atear fogo em Roma, jogou a culpa sobre os cristãos transformando-os em inimigos de Roma. A questão, naquele momento, não foi a de uma política de oposição ao cristianismo como tal. Os cristãos serviram, simplesmente, como bode expiatório para os surtos de loucura do imperador.

Sob o governo de Domiciano a perseguição tornou a recrudescer quando corria o ano de 95 d.C. E, no governo do imperador Trajano, (meio século depois de Nero) pertencer ao cristianismo passou a configurar-se um crime. As pessoas acusadas de integrar o movimento cristão, no momento em que eram julgadas, ao confessarem a sua fé, sem querer abjurá-la, eram sumariamente condenadas à morte. Até o segundo século, ser cristão podia significar prisão, tortura e morte.

A situação piorou ainda mais, de 303 em diante, quando os templos cristãos foram destruídos e os livros sagrados queimados; no ano 304, foi decretado a todos os cristãos que, se não renegassem a sua fé, seriam sumariamente condenados à morte. Era abjurar ou morrer, impasse que teve a duração de sete anos, época que antecedeu o anúncio do Edito de Tolerância, em 311. Finalmente, no governo de Constantino, o primeiro imperador cristão, o pesadelo teve fim. Por meio do Édito de Milão, (ano 313), o cristianismo foi reconhecido como religião oficial em todo o território romano.

Em referência ao papel da mulher durante os séculos de perseguição à Igreja, devemos concordar com João Crisóstomo que, em sua Homilia nº XXXI, declara:

As mulheres daqueles tempos eram mais corajosas que leões, compartilhando com os apóstolos seus labores por amor ao Evangelho. Dessa maneira, viajavam com eles e desempenharam todos os outros ministérios.

Acrescentemos que compartilharam de seus martírios sendo encarceradas, torturadas e, muitas delas, mortas da mesma maneira como eles foram. (Continua).

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