“AMARGA
INVEJA”
Rachel Winter
São inúmeros e bem
conhecidos os relatos bíblicos que tratam das tragédias originadas
por esse sentimento perverso chamado inveja. Basta lembrar que foi a
causa do primeiro homicídio registrado na Bíblia; quando Caim matou
Abel, porque Deus não se agradou de sua oferta, mas da de seu irmão.
(Gênesis 4). Bem se vê, a inveja pode permear qualquer
relacionamento, mesmo aquele que deveria ser, por definição,
afetivo. Transforma os laços (de ternura...?) familiares ou de
amizade em armadilhas que podem ser mortais. E, por incrível que
pareça, embaraça até relacionamentos entre mãe e filhos. E o mais
assombroso é quando se verifica que esse filho é ainda um bebê!
Foi o que se viu, há algum tempo, em Curitiba: uma mãe, de
dezessete anos de idade, torturava o seu bebê, de apenas 4 meses de
vida. O motivo, segundo suas próprias palavras, era inveja
da atenção que a família e as visitas dispensavam à criança. Ela
não aguentava ouvi-los dizer diante do berço: Que gracinha! Tão
bonitinho! E outras palavras de carinho e admiração pela criança,
fazendo a mãe sentir-se em segundo plano.
Não se sabe como a
criança sobreviveu, pois já tinha calos em alguns ossos do corpo,
que haviam sido fraturados e teriam solidificado mesmo sem
atendimento médico, tudo isso causado pelos maus-tratos infligidos
pela mãe. Mais chocante ainda é saber, segundo opinião de
psiquiatras, que muitos dos crimes praticados com requintes de
crueldade são de autoria de pessoas consideradas mentalmente normais
– que sabem muito bem o que estão fazendo. No caso da mãe,
denunciada por parentes, foi condenada pela justiça a alguns anos de
prisão; contudo nesse caso foi considerada pelos psiquiatras como
débil mental. Retardada, mas, não louca.
Será
que pessoas mais inteligentes não se enquadrariam entre os que têm
ciúme dos próprios filhos? – Ciúme e inveja andam de mãos
dadas. - Quantos pais manifestam ciúme do filho recém-nascido por
causa da atenção que a mãe passa a dispensar à criança! E
seriam todos débeis mentais? Certamente que não.
O apóstolo Tiago
[3:14-15] discorrendo sobre a inveja, diz: “Mas se tendes amarga
inveja, e
sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem
mintais
contra a verdade. Essa não é a “sabedoria” que vem do alto, mas
é terrena, animal
e diabólica.”
Perturbação
e perversidade –
A sociedade sempre enalteceu a mulher como mãe; ainda que a
desprezasse como cidadã e a mantivesse marginalizada como “segundo
sexo” - expressão cunhada pela pensadora francesa Simone de
Bouveau. A idéia que se fazia da mulher (segundo preconceitos
antigos) era de um ser meigo e frágil; mãe por excelência, (tal
como se pensa até hoje) ainda que incapaz de dirigir a sua própria
vida – incapaz igualmente, dada sua bondade natural, de cometer
atrocidades como as praticadas pelos homens, como observamos no
decorrer da História e tal como a prática diária nos mostra. Como
se vê, idéias permeadas de preconceitos e tabus. É difícil
redirecionar esse olhar e reconhecer que a mulher pode ser tão cruel
quanto o homem. E que, movida pela inveja, ou por outros sentimentos
devastadores, seja capaz de praticar crimes hediondos. Na realidade,
para o bem e para o mal, ambos estão em igualdade de condições,
tanto o homem quanto a mulher correm paralelos quando se trata de
praticar o mal. A bondade ou a maldade independem de gênero. A
questão é puramente pessoal, individual.
Educação
cristã –
Nesse sentido, a educação das meninas merece a mesma atenção que
a dos meninos no que se refere à prevenção da agressividade e da
violência. Necessita ser alicerçada no amor conforme ensinou e
praticou o Mestre dos mestres – Jesus Cristo. É no amor cristão,
a verdadeira Rocha sobre a qual deve alicerçar-se qualquer processo
educacional. Todas as pessoas precisam daquele ‘conhecimento que
vem do alto’, para aprender a crescer como ser humano para não
viver num relacionamento dilacerante, animalesco e diabólico com seu
semelhante. A mulher – mãe, por natureza – deve reconhecer-se o
mais cedo possível como guardiã da vida. Conscientizar-se de seu
papel de “depositária fiel” da herança do Senhor, que são os
filhos. Sem a direção que nos dá a palavra de Deus, a luta que
todos fatalmente têm que travar para vencer a si mesmos será
inglória. Sem perda de tempo, deve-se começar na infância o
ensinamento para a prática do amor cristão. Uma vez que Deus ama a
todos da mesma maneira, sem as exceções baseadas em parâmetros
humanos.
O combate à inveja
torna-se um dos principais alvos a ser alcançado em se tratando de
educação infantil. Para alcançá-lo os próprios pais precisam ser
os primeiros a não cultivar esse sentimento
‘animal
e diabólico’, pois, onde há inveja há perturbação e toda obra
perversa, como nos adverte o apóstolo Tiago. Outra coisa a ser
lembrada é que os filhos são reflexo dos pais.
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