MALDIÇÃO SOBRE O FUTEBOL BRASILEIRO
Rachel Winter
Não culpem os jogadores, nem o Felipão, nem o
Parreira, não acusem ninguém pelo fracasso do futebol brasileiro
nesta Copa de 2014. Esperança de sucesso para milhões de pessoas,
frustrada de um modo inacreditável pela vitória arrasadora da
seleção da Alemanha por 7 a 1.
Todos hão de convir que foi algo realmente inusitado
neste país, considerado o país do futebol e que esperava ganhar
facilmente o hexa campeonato. Ao que se saiba, não há notícias de
um time que goleasse o adversário com 4 gols seguidos em 6 minutos
de jogo, como fez a Alemanha e depois ainda acertasse mais 3.
Poderíamos falar em alguma espécie de maldição?
Talvez, porque o dinheiro que deveria ter sido usado para Saúde,
Educação e Segurança foi desviado para patrocinar a construção
dos estádios e demais despesas com a Copa.
Ontem, dia 9, no programa Cidade Alerta, do Marcelo
Rezende, na Record, uma reportagem sobre o Hospital das Clínicas de
São Paulo, foi de pasmar. Ainda que todos saibam do horror em que se
encontram os hospitais públicos do país, não há como deixar de se
indignar com a situação. Entre milhares de casos, cito só um
exemplo: um idoso diagnosticado com tumor no cérebro esperou para
ser atendido das 8h da manhã até as 16h30, sentido dores cujos
remédios não conseguiam amenizar. E foi, finalmente, atendido? Não!
Voltou pra casa sem atendimento.
E a situação dos médicos, que têm de atender uma
multidão de pacientes por dia? Em outra reportagem, vista em outro
canal de TV, a câmera flagrou um médico acocorado, socorrendo um
paciente no chão do corredor. Estudam tanto, fazem tantos
sacrifícios - só quem estuda medicina sabe - para depois virem a
exercer a profissão em condições degradantes.
Penso ser desnecessário descrever os horrores que se
veem nos hospitais públicos. Todos sabem da situação calamitosa
em que se encontram. Do mesmo modo, é do conhecimento geral, uma
vez que a mídia fala do assunto seguidamente, sobre o caos em que se
encontram a educação e a segurança no país.
Diante desse quadro, comemorar a conquista da Copa teria
sido chocante e escandaloso. Imaginem a cena, que não houve,
torcedores comemorando e gritando de alegria, enquanto uma parte da
população grita de dor nos corredores dos hospitais e, famílias
choram seu filhos assassinados porque enveredaram para a
criminalidade por falta de opção, porque não tiveram escolas
adequadas para prepararem-se para um futuro melhor. Nosso país é um
dos campeões nas mortes de jovens entre 16 e 25 anos de idade. E
um dos campeões em matéria de assassinatos. Diante desses tristes
dados, ser campeão do mundo, no futebol, seria um modo de mascarar
toda essa realidade miserável. Francamente, o dinheiro empregado na
copa e que deveria ter sido usado para finalidade de maior alcance
social, trouxe maldição para o futebol brasileiro. Lamentável que
essa maldição tenha pesado sobre os ombros dos atletas e dos demais
membros responsáveis pela Seleção brasileira. Muito triste. É bom lembrar que a nação
que pratica a justiça social sai sempre fortalecida e vitoriosa e que há muito mais entre o céu e a terra do que pensa nossa vã filosofia.
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