AS TRÊS MULHERES
O texto bíblico faz menção a uma mulher realmente tachada de
pecadora, que ungiu os pés de Jesus na casa do fariseu, chamado Simão. Esse
homem escandalizou-se com a cena, pensando que Jesus não a tivesse reconhecido
como tal e, por isso, até duvidando que Jesus fosse mesmo um profeta. Mas, o
Salvador, que é mais que um profeta, tinha conhecimento disso e, também, do que
o fariseu estava pensando.
Os versículos 37 e 38, descrevem-na literalmente como pecadora: E eis que
uma mulher da cidade, uma pecadora, sabendo que Ele estava à mesa em casa do
fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento; e estando por detrás, aos
seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugava-lhos
com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhes os pés, e ungia-lhos com o
unguento.
Apesar de ter recebido o cognome de pecadora, a mulher cujo nome não é
mencionado no Evangelho, seria realmente uma meretriz? Será que as palavras pecadora,
meretriz ou prostituta, no caso, poderiam ser tomadas como sinônimos? Sobre o
assunto, a escritora Lilia Sebastiani pondera de modo oportuno que, se um homem
tivesse se aproximado de Jesus, naquele dia, na casa do fariseu, para pedir-lhe
o perdão dos seus pecados – um pecador portanto – “ninguém seria levado a
pensar exclusivamente em faltas de natureza sexual.” Seria, realmente,
inconcebível. Quem ousaria imaginá-lo envolvido com prostituição?
Na esteira desse raciocínio, a pesquisadora Lillia Sebastiani, analisando
os elementos que compõem a cena e observa:
“É muito mais antiga do que o cristianismo a associação mental
espontânea mulher-pecado-sexo. Ali se encontravam dois elementos, mulher e
pecado, em um clima de acentuada e perturbadora feminilidade. É totalmente
instintivo para uma cultura patriarcal identificar a mulher com o sexo e,
portanto, a pecadora se torna logo uma prostituta, a mulher “ocasião de pecado”
por excelência.”
Não obstante, ao confundir Madalena com aquela pecadora, e deduzir ser
ela (Madalena - ou ambas) meretriz, pode ocorrer de um mito estar alicerçado
sobre outro mito. A malícia humana, como a história de Madalena nos mostra,
optou pelo pior. Assim como a escolha de Barrabás (Mateus 27.11-31), o qual se
livrou da morte, em lugar de Jesus, por escolha do povo, é apenas mais um
dentre tantos exemplos bíblicos e históricos da opção humana pelo mal. De igual
modo, quanto àquela “pecadora”, não há provas de que o seu pecado fosse o da
prostituição; nem que Maria de Mágdala fosse meretriz.
A outra, das três mulheres era Maria de Betânia - a irmã de Marta e de
Lázaro, ressuscitado por Jesus. Ela é identificada como a outra mulher que,
também, ungiu, os pés de Jesus. Todavia, seu gesto teve finalidade diferente,
que não a do perdão dos próprios pecados, esclarecida no evangelho de João (12.
1-11). Reconhecida como Maria de Betânia, no texto joanino, nos outros
evangelhos seu nome não é mencionado, mas, apenas narrado o acontecimento do
qual participou. Ocasião que serviu para demonstrar que ela tinha presciência
da morte próxima de Jesus. Inferência obtida pela resposta dada por Jesus,
quando Judas Iscariotes, na ocasião, reclamou que se poderia vender o
unguento, que era de altíssimo preço, para dar o dinheiro aos pobres. Disse,
pois, Jesus: Deixai-a, para o dia da minha sepultura guardou isto (v.7). Surpreendente
a atitude dessa discípula, aprestando-se a ungir Jesus, por pressentir a
proximidade de Sua morte, era um assunto a respeito do qual os outros
discípulos pareciam não ter uma noção clara.
A outra das três mulheres, a verdadeira mensageira de ressurreição –
Maria Madalena - foi quem, na mente popular, e até mesmo em alguns ambientes
eclesiais, teve seu nome fundido com o das outras duas. Ela que, na realidade,
veio a ser chamada apóstola dos apóstolos. Uma parte da responsabilidade pela
fusão dos três nomes em uma só pessoa cabe, também, ao fato de que, durante séculos,
o povo não teve acesso direto à leitura da Bíblia. (Continua).
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