domingo, 3 de janeiro de 2016

Trecho extraído do livro Mensageiras da Ressurreição

                                    MÁRTIRES CRISTÃS
O relato da perseguição aos cristãos, após a ascen­são de Cristo, e durante os primeiros séculos, possui um lado que ainda carece ser melhor conhecido e avaliado. Referimo-nos ao lado feminino dessa História. O silên­cio, como um manto de ferro, sob o qual se oculta esse episódio ainda não foi removido totalmente para que se possa observar toda a dimensão de seu heroísmo. Porque tal como o homem, a mulher suportou perseguição, tor­tura e chegou a morrer por não renegar a fé em Cristo, naqueles tempos difíceis para a Igreja. Além de ajudar os irmãos perseguidos, as mulheres foram igualmente encarceradas, padecendo nas prisões como a própria Bí­blia relata. Não pode ser esquecido que muitas delas não temeram acompanhar os passos de Jesus até o Calvário e durante a crucificação. Além do mais, no domingo de Páscoa, de madrugada, já estavam postadas diante do tú­mulo de Jesus.
Será que não temiam ser apontadas como perten­centes ao grupo dos seus seguidores? Visto que, dificilmente os que crucificaram a Jesus deixariam em paz seus seguidores, mormente estes anunciando a ressurreição de seu mestre. Desabou sobre as cabeças dos discípulos e das discípulas a perseguição já prevista por Jesus, primeiro por prisões, ameaças e, logo depois, pela própria morte.
Posteriormente, por ocasião da morte de Estevão, o primeiro mártir cristão, iniciou-se a dispersão dos cris­tãos sob a perseguição dos judeus, que os levou a fugir para outras cidades. Pelo exemplo de Saulo, pode-se ob­servar que a perseguição não se restringia apenas aos ho­mens, mas, atingia igualmente homens e mulheres. Saulo assolava a Igreja, entrando pelas casas: e, arrastando ho­mens e mulheres, os encerrava na prisão. (Atos 8.3)
Referindo-se ao texto, bem como a Atos 9.1-2 e 22.4, onde se encontra menção clara sobre a violência que atin­giu também as mulheres, o pesquisador Witherington III, observa: As mulheres da igreja de Jerusalém desempenha­ram um papel tão vital que sofreram perseguição junta­mente com os homens. Ele amplia suas considerações a respeito das duas passagens bíblicas declarando:
Isto deve deixar implícito para os leitores de Lucas que as mulheres tinham bastante significado, em núme­ro e/ou importância para a causa do Caminho, a ponto de Saulo pensar que não podia acabar com o movimento sem prender tanto homens como mulheres.
É interessante, também, observar, integralmente o texto de Atos (9. 1,2): E Saulo, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote e pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinago­gas, a fim de que, se encontrasse alguns daquela seita, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém.
Seguindo-se à perseguição movida pelos judeus, nos séculos seguintes e até quando o governo de Cons­tantino descriminalizou o cristianismo, o governo de Roma, também, resolveu estender seus tentáculos, em direção aos cristãos em cruenta e tenaz perseguição. Não se pode afirmar, contudo, que todos os imperadores ro­manos perseguiram os cristãos com o mesmo grau de crueldade e intensidade. A História aponta o ano de 64 como o do início da grande caçada ao povo de Deus, pe­los romanos, em sequência à perseguição movida pelos judeus. É relatado, ainda, que Nero, imperador romano, após atear fogo em Roma, jogou a culpa sobre os cristãos transformando-os em inimigos de Roma. A questão, na­quele momento, não foi a de uma política de oposição ao cristianismo como tal. Os cristãos serviram, simples­mente, como bode expiatório para os surtos de loucura do imperador.
Sob o governo de Domiciano a perseguição tor­nou a recrudescer quando corria o ano de 95 d.C. E, no governo do imperador Trajano, (meio século depois de Nero) pertencer ao cristianismo passou a configurar-se um crime. As pessoas acusadas de integrar o movimento cristão, no momento em que eram julgadas, ao confessa­rem a sua fé, sem querer abjurá-la, eram sumariamente condenadas à morte. Até o segundo século, ser cristão podia significar prisão, tortura e morte.
A situação piorou ainda mais, de 303 em diante, quando os templos cristãos foram destruídos e os livros sagrados queimados; no ano 304, foi decretado a todos os cristãos que, se não renegassem a sua fé, seriam su­mariamente condenados à morte. Era abjurar ou morrer, impasse que teve a duração de sete anos, época que an­tecedeu o anúncio do Édito de Tolerância, em 311. Fi­nalmente, no governo de Constantino, o primeiro impe­rador cristão, o pesadelo teve fim. Por meio do Édito de Milão, (ano 313), o cristianismo foi reconhecido como religião oficial em todo o território romano.
Em referência ao papel da mulher durante os sécu­los de perseguição à Igreja, devemos concordar com João Crisóstomo que, em sua Homilia nº XXXI, declara:
As mulheres daqueles tempos eram mais corajosas que leões, compartilhando com os apóstolos seus labores por amor ao Evangelho. Dessa maneira, viajavam com eles e desempenharam todos os outros ministérios.
Acrescentemos que compartilharam de seus martí­rios sendo encarceradas, torturadas e, muitas delas, mor­tas da mesma maneira como eles foram.
Casos de mulheres martirizadas por sua fidelidade a Cristo, podem ser extraídos da História Eclesiástica, de Eusébio de Cesareia. Um deles fala da admirável reação de uma jovem escrava, chamada Blandina ao enfrentar os carrascos que puseram fim à sua vida:
Essa moça foi torturada e depois suspensa num poste, presa às feras, mas estas não a molestaram. Após os chicotes, as feras, a grelha, puseram-na numa rede, para ser atirada a um touro. Lançada ao ar várias vezes pelo animal, não sentia mais nada, envolta na esperança das recompensas prometidas, entregue à sua conversão com Cristo. Finalmente, degolaram-na e os próprios pagãos confessaram que jamais, entre eles, mulher alguma padecera tanto em tão cruéis sofrimentos. (CONTINUA).


Nenhum comentário:

Postar um comentário