MÁRTIRES CRISTÃS
O relato da
perseguição aos cristãos, após a ascensão de Cristo, e durante os primeiros
séculos, possui um lado que ainda carece ser melhor conhecido e avaliado.
Referimo-nos ao lado feminino dessa História. O silêncio, como um manto de
ferro, sob o qual se oculta esse episódio ainda não foi removido totalmente
para que se possa observar toda a dimensão de seu heroísmo. Porque tal como o
homem, a mulher suportou perseguição, tortura e chegou a morrer por não
renegar a fé em Cristo, naqueles tempos difíceis para a Igreja. Além de ajudar
os irmãos perseguidos, as mulheres foram igualmente encarceradas, padecendo nas
prisões como a própria Bíblia relata. Não pode ser esquecido que muitas delas
não temeram acompanhar os passos de Jesus até o Calvário e durante a
crucificação. Além do mais, no domingo de Páscoa, de madrugada, já estavam
postadas diante do túmulo de Jesus.
Será que não temiam
ser apontadas como pertencentes ao grupo dos seus seguidores? Visto que, dificilmente
os que crucificaram a Jesus deixariam em paz seus seguidores, mormente estes
anunciando a ressurreição de seu mestre. Desabou sobre as cabeças dos
discípulos e das discípulas a perseguição já prevista por Jesus, primeiro por
prisões, ameaças e, logo depois, pela própria morte.
Posteriormente, por
ocasião da morte de Estevão, o primeiro mártir cristão, iniciou-se a dispersão
dos cristãos sob a perseguição dos judeus, que os levou a fugir para outras cidades.
Pelo exemplo de Saulo, pode-se observar que a perseguição não se restringia
apenas aos homens, mas, atingia igualmente homens e mulheres. Saulo assolava a
Igreja, entrando pelas casas: e, arrastando homens e mulheres, os encerrava na
prisão. (Atos 8.3)
Referindo-se ao texto,
bem como a Atos 9.1-2 e 22.4, onde se encontra menção clara sobre a violência
que atingiu também as mulheres, o pesquisador Witherington III, observa: As
mulheres da igreja de Jerusalém desempenharam um papel tão vital que sofreram
perseguição juntamente com os homens. Ele amplia suas considerações a respeito
das duas passagens bíblicas declarando:
Isto deve deixar
implícito para os leitores de Lucas que as mulheres tinham bastante
significado, em número e/ou importância para a causa do Caminho, a ponto de
Saulo pensar que não podia acabar com o movimento sem prender tanto homens como
mulheres.
É interessante,
também, observar, integralmente o texto de Atos (9. 1,2): E Saulo, respirando
ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo
sacerdote e pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, se
encontrasse alguns daquela seita, quer homens quer mulheres, os conduzisse
presos a Jerusalém.
Seguindo-se à
perseguição movida pelos judeus, nos séculos seguintes e até quando o governo
de Constantino descriminalizou o cristianismo, o governo de Roma, também,
resolveu estender seus tentáculos, em direção aos cristãos em cruenta e tenaz
perseguição. Não se pode afirmar, contudo, que todos os imperadores romanos
perseguiram os cristãos com o mesmo grau de crueldade e intensidade. A História
aponta o ano de 64 como o do início da grande caçada ao povo de Deus, pelos
romanos, em sequência à perseguição movida pelos judeus. É relatado, ainda, que
Nero, imperador romano, após atear fogo em Roma, jogou a culpa sobre os
cristãos transformando-os em inimigos de Roma. A questão, naquele momento, não
foi a de uma política de oposição ao cristianismo como tal. Os cristãos
serviram, simplesmente, como bode expiatório para os surtos de loucura do
imperador.
Sob o governo de
Domiciano a perseguição tornou a recrudescer quando corria o ano de 95 d.C. E,
no governo do imperador Trajano, (meio século depois de Nero) pertencer ao
cristianismo passou a configurar-se um crime. As pessoas acusadas de integrar o
movimento cristão, no momento em que eram julgadas, ao confessarem a sua fé,
sem querer abjurá-la, eram sumariamente condenadas à morte. Até o segundo
século, ser cristão podia significar prisão, tortura e morte.
A situação piorou
ainda mais, de 303 em diante, quando os templos cristãos foram destruídos e os
livros sagrados queimados; no ano 304, foi decretado a todos os cristãos que,
se não renegassem a sua fé, seriam sumariamente condenados à morte. Era
abjurar ou morrer, impasse que teve a duração de sete anos, época que antecedeu
o anúncio do Édito de Tolerância, em 311. Finalmente, no governo de
Constantino, o primeiro imperador cristão, o pesadelo teve fim. Por meio do
Édito de Milão, (ano 313), o cristianismo foi reconhecido como religião oficial
em todo o território romano.
Em referência ao papel
da mulher durante os séculos de perseguição à Igreja, devemos concordar com
João Crisóstomo que, em sua Homilia nº XXXI, declara:
As mulheres daqueles
tempos eram mais corajosas que leões, compartilhando com os apóstolos seus
labores por amor ao Evangelho. Dessa maneira, viajavam com eles e desempenharam
todos os outros ministérios.
Acrescentemos que
compartilharam de seus martírios sendo encarceradas, torturadas e, muitas
delas, mortas da mesma maneira como eles foram.
Casos de mulheres
martirizadas por sua fidelidade a Cristo, podem ser extraídos da História Eclesiástica,
de Eusébio de Cesareia. Um deles fala da admirável reação de uma jovem escrava,
chamada Blandina ao enfrentar os carrascos que puseram fim à sua vida:
Essa moça foi
torturada e depois suspensa num poste, presa às feras, mas estas não a
molestaram. Após os chicotes, as feras, a grelha, puseram-na numa rede, para
ser atirada a um touro. Lançada ao ar várias vezes pelo animal, não sentia mais
nada, envolta na esperança das recompensas prometidas, entregue à sua conversão
com Cristo. Finalmente, degolaram-na e os próprios pagãos confessaram que
jamais, entre eles, mulher alguma padecera tanto em tão cruéis sofrimentos. (CONTINUA).
Nenhum comentário:
Postar um comentário