A DIFÍCIL TRAJETÓRIA DA EMANCIPAÇÃO FEMININA
Muitos foram os sinais feitos pelo Mestre, mencionados no
livro Mensageiras da Ressurreição
para tornar compreensível a inconteste e salvadora verdade a respeito da
emancipação espiritual da mulher.
Todavia, o mundo
caminhou mais rápido do que a igreja (os cristãos) para alforriar o
gênero feminino, talvez, esse fato tivesse alguma razão de ser por questões
circunstanciais. Porque demandaria tempo para as pessoas acharem-se aptas a
compreendê-la e preparadas para aceitá-la. Trazendo a questão para o início do
século vinte, imaginemos que uma mulher resolvesse pregar o Evangelho em praça
pública. Certamente seria conduzida a uma delegacia porque perante a lei civil
era considerada menor de idade, incapaz de tomar decisões por conta própria.
Por conseguinte, a mudança de costumes e leis teria que
ocorrer no sentido de permitir à mulher liberdade de ação no âmbito social. O
que iria também refletir-se na comunidade cristã.
Para a grande maioria da população, fosse de judeus ou
pagãos e até mesmo cristãos, seria muito difícil a compreensão e aceitação da
liderança feminina. Como ocorre até hoje... Sem perder de vista que o cenário
era o de uma sociedade patriarcal. E a questão não é só mudar as leis, mas,
também, mudar a mentalidade das pessoas.
Aguardando o tempo certo de sua realização, a marginalização
da mulher cristã perdura há infindáveis séculos. (Até o início do século vinte,
pelo menos no Brasil, era costume a mulher ter de andar acompanhada para entrar
num cinema ou numa confeitaria e até mesmo ir às compras, se não quisesse
correr o risco de ficar “mal-falada”. Imagine-se o que seria na igreja uma
mulher ocupar o púlpito.
A questão cultural e os costumes sociais, repetimos, deve
ter pesado bastante. Além do que, o analfabetismo
era quase que geral. E havia necessidade, por conseguinte, de as
mulheres serem amparadas pelas leis civis e pelos costumes na sua “liberdade de
ir e vir”, pois, não podiam ir muito longe por conta própria.
As
perseguições: Reportando-nos, novamente, aos tempos da liderança de
Paulo, e nos trezentos anos posteriores, quando a igreja teve que viver na
clandestinidade, pode-se reconhecer esse como um dos grandes obstáculos a
impedir a emancipação feminina de vir à tona. A organização da sociedade
patriarcal não oferecia as mínimas condições para a mulher agir livremente em
nenhum de seus setores. O que se refletia fortemente na vida da igreja.
Outro aspecto a ser observado é que alguns apóstolos
chegaram a ser mortos pelo fato de serem cristãos. Dizem que Pedro foi
crucificado, mas, como não se sentia digno de ter a mesma morte que Jesus,
ordenou que colocassem a cruz virada de cabeça para baixo. Paulo foi morto à
espada e Tiago foi um dos primeiros a morrer, foi decapitado.
As mulheres cristãs, achavam-se sob a mesma ameaça de
morte, tanto que Paulo, no seu passado farisaico, quando ainda se chamava
Saulo, perseguia os cristãos, e arrastava para a prisão não só os homens, mas
também as mulheres, conforme Atos
8.3.
É interessante
notar, portanto, que, se dentro da Nova Aliança já fora decretada a salvação da
mulher, o que significa sua redenção no plano espiritual, contudo,
dentro do contexto social, ela permaneceu ao longo dos séculos escrava das leis
humanas. E, nas igrejas, olhada de soslaio, ainda que Jesus Cristo já houvesse
demonstrado o caráter injusto dessa opressão, e planejado a sua modificação. Tanto
num ambiente como no outro.
Resquícios cruéis da lei patriarcal perduram até hoje, em
muitos países orientais que permitem que a mulher seja punida com a morte, caso seja acusada de infidelidade
conjugal. E que o marido espanque a mulher, entre outros costumes bárbaros em
voga.
(No Brasil, apesar da proibição legal, dizem que a cada
meia-hora uma mulher é espancada).
Note-se que somente no final do século XIX e início do
século XX foi que se começou a cogitar, nos países ocidentais, sobre o direito
do voto feminino. E que, muito recentemente, as leis civis facultaram-lhe o
direito de responsabilizar-se por suas próprias ações sem a dependência do aval
do pai, marido ou responsável, desde que completada a maioridade. Havia ainda
um resquício de autoritarismo dentro do Código Penal brasileiro determinando
que a mulher, para abrir um carnê para compras domésticas ou pessoais,
precisava do aval do marido. Mas, os próprios usos e costumes, concorreram para
a sua caduquice.
Portas abertas:
Portanto, para que chegasse ao ponto em que se encontra
hoje, de poder exercer o ministério ordenado, em algumas denominações, foi
necessário que muitos fatores concorressem para isso, paralelamente, na igreja e
na sociedade. E, como diz em Eclesiastes: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu...” (3:1).
Ainda que haja descrença ou dúvidas, quanto à missão da
mulher, hoje, como houve no passado, ela tem de saber que a sua hora chegou.
Glória a Deus por isso! Vêem-se já
muitas trabalhadoras em
campo. Tem-se notícia de episcopisas – nome que se dá ao
cargo feminino equivalente ao de bispo. Uma delas é La Dona Osborn , filha do
grande pregador norte-americano T.L.Osborn. Outra grande evangelista é Joyce
Meier, que desenvolve o seu ministério, também, por meio da televisão, através
da qual tornou-se bem conhecida no Brasil.
No nosso país já existe um bom número de pastoras,
principalmente, nas igrejas neo-pentecostais. Entre as igrejas tradicionais,
chamadas de históricas, a Igreja Metodista há tempo abriu espaço para o
ministério pastoral da mulher.