PRINCÍPIO DE DIREITO
VERSUS MORAL CRISTÃ
O princípio da
submissão das mulheres aos maridos, conforme entendem alguns estudiosos, não
se trata de um preceito da moral cristã, mas, de um princípio de direito,
comum nas sociedades judaica e greco-romana. Paulo respeitava-o, não afrontando
as suas leis, quer as regulamentadas pelo direito, em seus termos legais, quer
as ditadas pelos costumes. Atitude, aliás, recomendada explicitamente, também,
pelo apóstolo Pedro a todos os cristãos para não correrem o risco de passar
por malfeitores. (1 Pedro 2. 12-17). Pela observância às leis vigentes, dariam
bom exemplo de vida a fim de que o Evangelho não fosse difamado.
O importante, então,
nos textos de Efésios, bem como em Colossenses, que tratam do referido assunto,
não é a submissão comumente tida como aviltante, que coloca a esposa em
situação de inferioridade, mas, sim, segundo observam alguns teólogos a
referência a seguir na frase bíblica: Como convém no Senhor (Colossenses 3.18).
O Senhor no comando de todos os aspectos do relacionamento conjugal; domínio
não mais do direito, mas, aí sim, da ética cristã. Trata-se de mandamento
divino; fala-se, então, do amor cristão, daquele amor marcado pelo dom de si
mesmo – do amor ágape, semelhante ao amor de Cristo, em que a pessoa é capaz de
doar sua vida para salvar outra.
Não seria correto
confundir um princípio consuetudinário e do direito, com um princípio
fundamental da moral cristã, a fim de manter uma filha de Deus sujeita ao
arbítrio de qualquer cidadão de maus bofes. Quando Paulo fala, não trata de uma
questão de hierarquização grosseira, tal como o marido manda e a mulher obedece.
Atitude bem conforme ao gosto da mentalidade machista e da interpretação que
os cronistas mundanos dão às palavras de Paulo registradas nos Evangelhos. A jurisprudência
e os costumes das sociedades de antanho ratificavam a discriminação contra a
mulher. Hoje, incorre em erro, hoje, quem leva essas palavras ao pé da letra –
reconhecendo o seu emprego em qualquer tipo de casamento. O Senhor não endossa
a escravização da mulher pelo marido. Cristianismo é sinônimo de liberdade. A
mulher deve submeter-se à autoridade do marido verdadeiramente cristão, porque
dentro da moral cristã a relação marido-mulher toma outra forma, por ser estruturada
no amor. Certamente, um sentimento diverso e mais grandioso do que aquele
puramente romântico e carnal.
Trata-se, portanto, de
outro texto bíblico, o da submissão da esposa, interpretado de maneira falaz,
para apoiar a tirania contra a mulher, a subserviência e o servilismo dentro
de casa e na sociedade. Muitos maridos, os mais simples e desavisados chegam a
encarar a esposa como uma serviçal, no sentido literal da palavra. Responsabilidade,
injustamente, atribuída, ao apóstolo Paulo quanto às consequências nefastas
que tal interpretação tem trazido ao fraudar os direitos das mulheres cristãs.
Todavia, responsáveis
por esses enganos são as interpretações literais das cartas paulinas, que só
beneficiam os próprios homens. Para eles é conveniente escorar-se sob a
proteção da mentalidade patriarcal para auferir vantagens e comodidades que
esse modo de pensar lhes faculta. Nunca é demais lembrar que patriarcado tem
sido sinônimo de despotismo contra as mulheres.
No momento em que
Cristo enviou as mulheres para dar a notícia de Sua ressurreição, não consta
que Ele as tenha mandado primeiro pedir autorização aos seus maridos, pais ou
responsáveis, para cumprirem a missão. Independência e autonomia feminina
ficaram claramente demonstradas nessa ocasião. Fato que nos leva a concluir
que até mesmo acatando a autoridade do marido, a autonomia espiritual da esposa
cristã, deve ser colocada em primeiro lugar. Convém, observar, também, paz e liberdade
devem permear o relacionamento entre marido e mulher, no lar genuinamente
cristão.
Em síntese, o amor
cristão propõe a questão da seguinte maneira: o respeito e o amor que a mulher
deve ao marido são proporcionais aos que o marido deve à esposa. Será
impossível a uma esposa que compreende a orientação bíblica - sujeitai-vos a
vossos maridos, como ao Senhor - deixar de reverenciá-lo. A palavra submissão,
neste caso, toma um sentido de reconhecimento, respeito e amor. Nada a ver,
portanto, com o significado que adquiriu no nível mundano, que é de
subalternidade: a mulher colocada em segundo plano, inferior ao homem.
A igualdade entre as
pessoas está no cerne do cristianismo, porque Deus não faz acepção de pessoas.
(Atos 10.34). (Continua).
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