PROFETIZAS DO ANTIGO
TESTAMENTO
Ao analisar o papel da
mulher, como profetiza, no Antigo Testamento, o professor Eduardo Getão afirma:
O Antigo Testamento legitima a tarefa bem como a validade das ações proféticas
no cumprimento das profecias. Neste período observa-se o reconhecimento da
missão profética desenvolvida pela mulher.
Apesar da grande
importância que a profecia representou para o povo de Israel, o registro
desses acontecimentos - no que concerne ao seu exercício por parte das
mulheres – é parco em detalhes; o que pode ser creditado ao predomínio da
linguagem androcêntrica da narrativa bíblica. A Bíblia, escrita por homens,
deixa de registrar a maioria dos feitos realizados pelas mulheres. Ainda assim,
o essencial foi escrito, e menciona grandes nomes femininos ligados à atividade
profética como os de Miriã, Débora e Hulda. Os eruditos concordam com a
afirmação de que as profetisas do Antigo Testamento realizaram um autêntico e
verdadeiro ministério profético entre os filhos de Israel. Convém notar,
também, que Miriã e Débora exerceram atividades políticas de grande importância
para a nação israelense.
Miriã
Então Miriã, a profetiza,
irmã de Aarão (e de Moisés), tomou o tamboril na sua mão, e todas as mulheres
saíram atrás dela com tambores e com danças. (Êxodo 15. 20, 21).
Esse relato nos dá uma
perfeita mostra da influência exercida por Miriã sobre as mulheres
israelenses. Episódio no qual elas foram unânimes em segui-la na dança
jubilosa de agradecimento a Deus, por ter livrado o povo das mãos de Faraó. Por
Ele ter aberto o Mar Vermelho para Israel passar, Miriã entoava: Cantai ao
Senhor, porque sumamente se exaltou, e lançou no mar o cavalo e o cavaleiro.
(v.21). Tais palavras referem-se ao fato de que após o povo de Israel passar,
em seco, pelo meio do mar e, tendo o exército do Faraó tentado segui-lo, foi
tragado pelas águas. Pereceram cavalos e cavaleiros levando consigo todas as
armas de guerra.
Sobre o desempenho de
Miriã, Thomas R. Schreiner declara: É simplesmente errado concluir que Miriã
ministrava apenas às mulheres. As histórias sobre Miriã mostram que ela foi
realmente uma figura pública, um membro do trio de líderes em Israel.
Débora
Débora, profetiza, como
claramente é declarado no livro de Juízes 4. 4-5, associava esse ministério ao
cargo de juíza. Seu lugar de trabalho e de moradia era debaixo das palmeiras,
chamadas palmeiras de Débora, entre Ramá e Betel, região montanhosa de Efraim
(Juízes 4.5), onde as pessoas se reuniam para os julgamentos sob a sua
autoridade.
Um aspecto pouco
observado e difundido de sua biografia é o seu lado guerreiro, no sentido
literal da palavra, posto que partiu dela a iniciativa de declarar guerra ao
chefe do exército de Canaã, chamado Sísera. Isso aconteceu quando Israel
achou-se num momento crítico de sua História, sob grande ameaça desse povo
inimigo. Havia vinte anos que os israelitas vinham sendo pressionados pelos
cananeus.
O motivo que levou
Débora tanto a declarar a guerra como a participar dela foi a atitude indecisa
de Baraque em cumprir a ordem de Deus a esse respeito. O Senhor havia ordenado
a ele atrair o exército inimigo ao monte Tabor, levando com ele dez mil homens
dos filhos de Naftali e dos filhos de Zebulom, porque lhe daria a vitória sobre
Sísera. Porém, Baraque hesitava em pôr em prática a orientação dada pelo
Senhor. Por esse motivo, Débora mandou chamá-lo, cobrando explicações. Baraque
respondeu que, finalmente, enfrentaria o exército inimigo, mas, impôs uma
condição, (Juízes 4.8b) iria somente se Débora fosse com ele, caso contrário
não iria. Diante disso, Débora prontificou-se a acompanhá-lo.
A explicação que se tem
quanto à atitude de Baraque, procurando apoiar-se em Débora, seria por ignorar
a data em que deveria dar início à batalha. Ela poderia ajudá-lo, ao profetizar
sobre a questão, caso o acompanhasse nessa luta. Explicação, a que as palavras
dela vêm corroborar, pois, quando já se encontrava no monte Tabor, local
designado para a peleja, diz a Baraque: Levanta-te, porque este é o dia em que
o Senhor tem dado a Sísera na tua mão: porventura o Senhor não saiu diante de
ti? Baraque, pois, desceu do monte Tabor, e dez mil homens após ele (v.14). O
que, à primeira vista, poderia parecer uma atitude pusilânime de Baraque -
depender da companhia de uma mulher para acompanhá-lo na batalha - não foi
mais que um recurso hábil de sua parte por uma questão de prudência; visto que,
contar com a ajuda de uma palavra profética, indicando-lhe o melhor momento
para atacar o exército inimigo, representaria, sem dúvida, grande vantagem.
Outrossim, o fato mostra quão respeitado e veraz era o ministério profético
dessa mulher.
O desfecho da batalha
dá-se com a vitória de Israel; e, graças à missão patrocinada pela profetiza, a
nação gozou de estabilidade por quarenta anos. O mérito da vitória coube a
ela. Antecipadamente, Débora avisara Baraque sobre essa questão, ao assentir
em acompanhá-lo ao campo de batalha. Os louros da vitória, avisou-o, não seriam
creditados a ele, mas a ela e, de fato, assim aconteceu.
Nesse episódio, não
pode ser esquecido mais um nome de mulher, o de Jael; protagonista de um
incidente violento, foi ela quem deu o golpe de misericórdia em Sísera. (Juízes
4.18-24).
Não podemos deixar de
lado, também, outro dos predicados de Débora, qual seja, o seu talento de
musicista. O capítulo 5, de Juízes, é inteiramente dedicado ao registro do seu
cântico de vitória por Israel, entoado por ela na presença de toda a nação.
(Juízes 5.1-32). Num dos seus versos ela exclama: Eu Débora, me levantei por
mãe em Israel. (v.7b). ( Continua).
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