terça-feira, 11 de agosto de 2015

Texto extraído do livro Mensageiras da Ressurreição

                           JÚNIA NA PRISÃO COM ANDRÔNICO E PAULO

O texto de Romanos 16, continua fornecendo pre­ciosos detalhes sobre a trajetória feminina na primeira Igreja cristã. No versículo 7, Paulo refere-se a um casal, Andrônico e Júnia que, segundo alguns teólogos, possi­velmente, teriam integrado o grupo dos Setenta e Dois discípulos de Jesus. Ao falar sobre eles, declara: Os quais se distinguiram entre os apóstolos e que me precederam na fé em Cristo (v.7b). Anteriores, portanto, à época da ekklesia, conviveram com Jesus e, depois, foram contados na comu­nidade dos apóstolos entre os quais se notabilizaram.
Eram parentes de Paulo, e sofreram com ele as agruras do cárcere, como ele mesmo informa. Júnia fi­cou conhecida como a apóstola notável juntamente com Andrônico. A Bíblia não dá maiores detalhes sobre a vida dos dois, mas, tudo leva a crer que eram marido e mu­lher, tal como Priscila e Áquila.
O fato de Paulo chamar uma mulher de apóstola e, ainda mais de notável, eriçou os brios varonis de alguns eruditos machistas. Dentre os contemporâneos princi­palmente, mas alguns do passado também empacaram diante desse fato. Não conseguindo aceitá-lo, resolveram pôr em dúvida o gênero do nome Júnia. Alguns quiseram provar que Júnia era nome de homem, como tentou fazê-lo um escritor que viveu entre os séculos treze e catorze, conhecido como Egídio de Roma. Foi em sua narrativa que pesquisadores atuais foram desencravar essa história mal contada. Porém, nem aquele nem estes são levados muito a sério, tampouco apresentaram argumentos con-­ vincentes para sustentar essa versão do caso.
A questão, exumada por alguns antifeministas “mo­dernos” e inconformados, já perdeu a sua efervescência e os pesquisadores, em sua maioria, tendem a concordar que Júnia é mesmo nome feminino. Destacam, também, que Júnia e seu marido Andrônico, foram pessoas dignas das palavras com que Paulo os classifica, isto é, de notá­veis entre os apóstolos.
Stanley Grenz, observa: Em contraste ao tempes­tuoso debate contemporâneo, o gênero de Júnia não era um problema na era patrística” (pais da igreja). E, acrescenta: Alguns eruditos contemporâneos afirmam que, antes do século treze, quase todos os comentaristas deste texto consideravam Júnia mulher.
No âmago da questão, reconheçamos, encontra-se a vontade de provar que não houve mulher alguma que tivesse sido discípula de Cristo e de negar que alguma delas pudesse ter-se notabilizado como tal. Nas entreli­nhas dessa controvérsia caduca, arde o desejo daqueles que querem tirar da mulher o lugar que lhe pertence por direito na História do cristianismo . A intenção, porém, é clara, trata-se de impedi-la de ocupar o seu espaço como mensageira das Boas- Novas, nos dias de hoje. Tem sido assim desde os tempos em que a igreja se organizou como uma instituição religiosa em substituição à ekklesia, na qual a comunidade dos cristãos apoiava-se unicamente nas palavras de Cristo. A partir da organização da Igreja em forma de instituição religiosa, foram sendo criadas normas e dogmas inventados pelo homem, e a mulher foi perdendo o espaço que ocupou ao lado de Jesus e na primeira Igreja.
Resquícios dessa mentalidade obsoleta encontram-se, ainda hoje, espalhados mesmo entre uma e outra das denominações evangélicas e no âmbito da igreja católica. Entretanto, os protestos dos diversos segmentos da te­ologia feminista tendem a aumentar, tanto entre evan­gélicos tradicionalistas como entre católicos. A busca afanosa pela reconstituição da História da mulher cristã constitui-se num clamor por justiça visto que:
As mulheres não eram figuras marginais no mo­vimento cristão primitivo, mas exerciam a liderança de apóstolas, profetisas, evangelistas e missionárias, ofícios semelhantes aos de Barnabé, Apolo ou Paulo.
Não é correto que sejam marginalizadas na igreja do Terceiro Milênio. Por outro lado, o querer fraudar a mulher no que tem de glorioso em seu passado apostó­lico, serve de empecilho à compreensão da sua autono­mia espiritual. Faz pairar sobre ela, na mente do povo (e dos religiosos) a sombra da maldição de Eva, como se a salvação em Cristo não a tivesse alcançado, libertando-a do pecado que teve origem na Queda. Os que assim pro­cedem mostram não entender que a mulher já teve suas vestes lavadas no sangue do Cordeiro. Em sua totalidade, o gênero feminino precisa ser visto regenerado e mais alvo do que a neve. A mulher tem o direito de reaver tudo o que lhe foi tirado no decorrer dos séculos: seu lugar de honra dentro da História da Igreja, no mesmo nível que o dos discípulos, e de ser reconhecida como bem-aventurada porque alcançou, pelo dom gratuito de Deus, a graça salvadora de Jesus Cristo. Principalmente, por ter sido a primeira a receber do Senhor ressurreto o primei­ro comissionamento para proclamar a ressurreição.

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