JÚNIA NA
PRISÃO COM ANDRÔNICO E PAULO
O texto de Romanos 16, continua fornecendo preciosos detalhes sobre a trajetória feminina na primeira Igreja cristã. No versículo 7, Paulo refere-se a um casal, Andrônico e Júnia que, segundo alguns teólogos, possivelmente, teriam integrado o grupo dos Setenta e Dois discípulos de Jesus. Ao falar sobre eles, declara: Os quais se distinguiram entre os apóstolos e que me precederam na fé em Cristo (v.7b). Anteriores, portanto, à época da ekklesia, conviveram com Jesus e, depois, foram contados na comunidade dos apóstolos entre os quais se notabilizaram.
Eram parentes de
Paulo, e sofreram com ele as agruras do cárcere, como ele mesmo informa. Júnia
ficou conhecida como a apóstola notável juntamente com Andrônico. A Bíblia não
dá maiores detalhes sobre a vida dos dois, mas, tudo leva a crer que eram
marido e mulher, tal como Priscila e Áquila.
O fato de Paulo chamar
uma mulher de apóstola e, ainda mais de notável, eriçou os brios varonis de
alguns eruditos machistas. Dentre os contemporâneos principalmente, mas alguns
do passado também empacaram diante desse fato. Não conseguindo aceitá-lo,
resolveram pôr em dúvida o gênero do nome Júnia. Alguns quiseram provar que
Júnia era nome de homem, como tentou fazê-lo um escritor que viveu entre os
séculos treze e catorze, conhecido como Egídio de Roma. Foi em sua narrativa
que pesquisadores atuais foram desencravar essa história mal contada. Porém,
nem aquele nem estes são levados muito a sério, tampouco apresentaram
argumentos con- vincentes para sustentar essa versão do caso.
A questão, exumada por
alguns antifeministas “modernos” e inconformados, já perdeu a sua
efervescência e os pesquisadores, em sua maioria, tendem a concordar que Júnia
é mesmo nome feminino. Destacam, também, que Júnia e seu marido Andrônico,
foram pessoas dignas das palavras com que Paulo os classifica, isto é, de notáveis
entre os apóstolos.
Stanley Grenz,
observa: Em contraste ao tempestuoso debate contemporâneo, o gênero de Júnia
não era um problema na era patrística” (pais da igreja). E, acrescenta: Alguns
eruditos contemporâneos afirmam que, antes do século treze, quase todos os
comentaristas deste texto consideravam Júnia mulher.
No âmago da questão,
reconheçamos, encontra-se a vontade de provar que não houve mulher alguma que
tivesse sido discípula de Cristo e de negar que alguma delas pudesse ter-se
notabilizado como tal. Nas entrelinhas dessa controvérsia caduca, arde o
desejo daqueles que querem tirar da mulher o lugar que lhe pertence por direito
na História do cristianismo . A intenção, porém, é clara, trata-se de impedi-la
de ocupar o seu espaço como mensageira das Boas- Novas, nos dias de hoje. Tem
sido assim desde os tempos em que a igreja se organizou como uma instituição
religiosa em substituição à ekklesia, na qual a comunidade dos cristãos
apoiava-se unicamente nas palavras de Cristo. A partir da organização da Igreja
em forma de instituição religiosa, foram sendo criadas normas e dogmas inventados
pelo homem, e a mulher foi perdendo o espaço que ocupou ao lado de Jesus e na
primeira Igreja.
Resquícios dessa
mentalidade obsoleta encontram-se, ainda hoje, espalhados mesmo entre uma e
outra das denominações evangélicas e no âmbito da igreja católica. Entretanto,
os protestos dos diversos segmentos da teologia feminista tendem a aumentar,
tanto entre evangélicos tradicionalistas como entre católicos. A busca afanosa
pela reconstituição da História da mulher cristã constitui-se num clamor por
justiça visto que:
As mulheres não eram
figuras marginais no movimento cristão primitivo, mas exerciam a liderança de
apóstolas, profetisas, evangelistas e missionárias, ofícios semelhantes aos de
Barnabé, Apolo ou Paulo.
Não é correto que
sejam marginalizadas na igreja do Terceiro Milênio. Por outro lado, o querer
fraudar a mulher no que tem de glorioso em seu passado apostólico, serve de
empecilho à compreensão da sua autonomia espiritual. Faz pairar sobre ela, na
mente do povo (e dos religiosos) a sombra da maldição de Eva, como se a
salvação em Cristo não a tivesse alcançado, libertando-a do pecado que teve
origem na Queda. Os que assim procedem mostram não entender que a mulher já
teve suas vestes lavadas no sangue do Cordeiro. Em sua totalidade, o gênero
feminino precisa ser visto regenerado e mais alvo do que a neve. A mulher tem o
direito de reaver tudo o que lhe foi tirado no decorrer dos séculos: seu lugar
de honra dentro da História da Igreja, no mesmo nível que o dos discípulos, e
de ser reconhecida como bem-aventurada porque alcançou, pelo dom gratuito de
Deus, a graça salvadora de Jesus Cristo. Principalmente, por ter sido a
primeira a receber do Senhor ressurreto o primeiro comissionamento para
proclamar a ressurreição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário