O SIGNIFICADO DA RESSURREIÇÃO
Na primeira carta aos Coríntios, capítulo 15, o apóstolo Paulo fala sobre a ressurreição de Cristo, demonstrando como esse fato representa a coluna de sustentação da nossa fé. Dentre as veementes considerações sobre o assunto, observe-se a do versículo 17: E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados.
Incontestavelmente, a
ressurreição aparece como o acontecimento basilar do cristianismo, sem o que,
nossa redenção “em Cristo” não se realizaria, e o plano de salvação de Deus
para a humanidade seria frustrado. E também os que dormiram em Cristo estão
perdidos. Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de
todos os homens (vv.18,19).
Não poderia deixar de abordar
neste livro, ainda que de modo esquematizado, o grandioso tema da ressurreição;
assunto sempre merecedor de estudo profundo que possa abranger toda a sua
dimensão e mistério. Porém, o desincumbir-se dessa tarefa cabe aos teólogos.
Por conseguinte, abordaremos o tema resumidamente, recorrendo às palavras da
Bíblia sob a luz da análise exegética de alguns abalizados teólogos.
Discorrer sobre a ressurreição
de Cristo, interpretá-la e tentar explicá-la tem sido o grande desafio de
teólogos e até mesmo de filósofos ao longo dos séculos. Protestantes e
católicos têm procurado desvendar-lhe o significado na ânsia de melhor
compreendê-lo e de torná-lo mais acessível à compreensão popular. Certamente,
pelos séculos afora, continuarão a trabalhar nessa tarefa que se liga ao
Eterno. Sempre há mais a ser dito, pois o tema caracteriza-se por ser
inesgotável, uma vez que trata da Fonte da Vida que é Jesus Cristo, o Alfa e o
Ômega, o princípio e o fim. Será que algum dia poderemos atestar o nosso total
e completo conhecimento sobre o assunto?
O mistério que envolve a
ressurreição de Cristo faz presumir a Sua morte e autentica seu sentido de
redenção. Morte e ressurreição são acontecimentos inseparáveis – redentores -
que se inserem no quadro mais amplo da Escatologia: na parusia, volta gloriosa
de Cristo para buscar a Sua igreja. Verdade que é, incontestavelmente,
reconhecida e aceita pelas diversas correntes de interpretação teológica.
Nunca é demais lembrar, por
causa de dúvidas e interpretações bizarras, que a ressurreição de Cristo foi
literal e corpórea, não podendo ser vista apenas como espiritual ou simbólica.
Haja vista, a Sua atitude, quando ressurreto, ao aparecer aos discípulos
dizendo-lhes: Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo: tocai-me e
vede; pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. E,
dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. (Lucas 24. 39, 40). Do mesmo modo
será a ressurreição dos mortos da qual Cristo foi feito as primícias.
(1Coríntios 15.20).
Amor inexplicável - O que a
morte e a ressurreição revelam a nós, em seu substrato, continua a ser
inexplicável para a inteligência humana, qual seja, o amor de Deus pela
humanidade. Revelação que constitui, parece incoerência, um enigma para o
intelecto, porque extrapola o nosso entendimento e compreensão. Ao falar do
amor de Deus, nossa inteligência mostra-se frágil em comparação com o
discernimento espiritual, capaz de apreendê-lo melhor. O evangelho de João
descreve-o da seguinte maneira: Porque Deus amou o mundo de tal maneira que
deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna. (João 3.16).
Todavia, é preciso transitar,
também, pelo universo da razão. A inteligência toma conhecimento do fato:
Cristo morreu e ressuscitou por nós! Com Ele ressuscitaremos para a vida
eterna! Essa vitória é a base da fé cristã e motivo de nossa perene alegria.
Mas como é isso? Nesse patamar, o empenho teológico vem desempenhar o seu
papel, embora saibamos que o homem natural não compreende as coisas do Espírito
de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se
discernem espiritualmente (1 Coríntios 2.14). Não obstante, o esforço dos
estudiosos para explanar o significado da ressurreição merece todo o nosso
reconhecimento e aplauso - ainda que o tema se apresente dividido por
interpretações diversas, o que seria de esperar dada a sua tremenda
complexidade e ao seu mistério.
O conhecimento intelectual
que, em comparação com a sabedoria que vem do alto (Tiago 3.15), caracteriza-se
por ser limitado, esforça-se tenazmente para explicar o significado do
mistério pascal e compreender os seus diversos passos. Nesse embate, surgem
diferentes enfoques tanto no meio evangélico como entre católicos. Oportunas
são as palavras de Paulo ao afirmar: Porque agora vemos por espelho em
enigma... (1 Coríntios 13.12a).
Acentue-se, porém, que em nada
as diferenças no modo de pensar a ressurreição, algumas das quais citaremos a
seguir, afetam a fé na certeza de que se trata de acontecimento fundamental
para a fé cristã. Sobre essa verdade os eruditos cristãos estudam e trabalham
tal qual mineradores em busca de tesouros escondidos.
Não se entenda, porém, que o
trabalho de exegese dos pesquisadores se faça unicamente no nível intelectual,
apartado da revelação e da unção de Deus. De modo algum, possa entender-se
assim. Antes, devemos reconhecer o seu esforço para trazer ao nível da razão as
coisas maravilhosíssimas que pertencem ao universo do espírito – até quanto
isto seja possível - porque as coisas encobertas são para o Senhor nosso Deus:
porém as reveladas são para nós (Deuteronômio 29. 29a). (Continua).
Nenhum comentário:
Postar um comentário