domingo, 16 de setembro de 2012

Trecho extraído do capítulo 6 (1) do livro Mensageiras da Ressurreição

                                     A QUESTÃO DO TRAJE E DO VÉU
 
Paulo, juntamente com os demais apóstolos, mantinha-se vigilante quanto à boa fama da igreja, que era incansavelmente perseguida pelos judeus e olhada de viés pelos pagãos. Para não dar motivos a escândalos, determinou que as mulheres mantivessem o uso do véu ou xale na cabeça. Não obstante rejeitar os costumes judaicos, conservou essa prática observada, também, nas sinagogas, local onde a as mulheres só podiam permanecer com a cabeça coberta por véu, eram proibidas de falar e ficavam numa outra ala, separadas dos homens.
O apóstolo Paulo porfiava por fazer entender aos cristãos, provindos do judaísmo, que não estavam mais sob o jugo da Lei, motivo pelo qual era necessário que se livrassem dos antigos hábitos e costumes. Contudo, no caso da mulher, o véu ou xale – cobertura de cabeça – subsistiu. Sua finalidade, porém, excedia o manter tradição ou costume a fim de evitar escândalos; havia algo mais importante a ser observado, como se pode ler em 1 Coríntios 11.5: Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada.
Antes de entrar no mérito da questão, observemos a alvissareira notícia de que as mulheres eram livres para orar e profetizar nas assembléias. É muito agradável saber que, nos primórdios da Igreja, era permitido a elas, nos cultos, exortar e edificar a congregação; ações estas reconhecidas como decorrentes do ato de profetizar. Evidência que atesta, também, o exercício da liderança e da autoridade das primeiras cristãs.
Diante do relatado, a questão do véu fica em segundo plano. Todavia, entre os  teólogos há debates intermináveis a respeito do seu real significado. Uns acreditam tratar-se de um gesto de submissão da mulher ao marido, o que configuraria discriminação, hierarquia. Outros, como Pierre Grelot, refutam tal teoria e defendem a tese de que o uso do véu pelas mulheres não era um sinal de inferioridade ou de submissão, mas, um modo de manter dignidade e decência. Questão de costume daquela época.
Jerome Murphy O´Connor, por sua vez, sintetiza a questão de um modo bem interessante, declarando que Paulo estava preocupado em manter a distinção entre os sexos e não com a discriminação.
A exigência de Paulo era de que as mulheres mantivessem os cabelos bem arrumados e que os homens usassem cabelos curtos.
Seguramente, os motivos que levaram o apóstolo a orientar sobre a maneira como as mulheres deveriam usar os cabelos não eram de natureza estética. A motivação era a mesma que o levou a orientá-las, também, a se vestir adequadamente. Ou seja, para manter bem longe da igreja dos santos costumes ou comportamentos próprios dos povos pagãos. Convém salientar que nos cultos a Dionísio, Cibele, Pítia e Sibila o cabelo solto era necessário para a mulher produzir encantamentos mágicos eficazes.
Ainda, a respeito do uso do véu, na passagem de 1 Coríntios 11.10, lemos: Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos. Texto que tem dado muito trabalho aos exegetas, especialmente em sua segunda parte, ou seja, na referência aos anjos.
Não há uma resposta aceita consensualmente sobre o seu verdadeiro significado. Uns pensam tratar-se de anjos bons, sempre presentes em momentos de culto a Deus. Seria um sinal de respeito a eles? Outros colocam em dúvida essa versão, sem apresentar outra solução aceitável, enquanto o texto permanece envolto em mistério.
Não obstante, uma coisa é certa, na primeira parte da frase, ao falar do uso do véu como sinal de poderio da mulher, o apóstolo vem derrubar a teoria de que o seu uso signifique submissão ao homem. Certamente, diz respeito ao direito de a mulher marcar a presença feminina nos cultos de adoração a Deus, nos quais ela poderia expressar-se à sua maneira, e não à maneira masculina.
Assim denotaria a própria identidade livremente, na presença do Altíssimo.
O cuidado em acentuar a diferença do viver cristão em relação ao viver profano - uma constante no ministério de Paulo - deve ter influenciado grandemente na questão do uso do véu. Basta observar que o costume era bastante difundido não somente entre as mulheres na sinagoga, mas, também, entre as gregas. Nesse sentido, observe-se o que acontecia nos rituais profanos, em cultos extáticos: A possessão pela divindade era simbolizada pela remoção da cobertura da cabeça, provavelmente pelo sacudir ou lançar para trás o cabelo, e pela troca de roupas entre homens e mulheres. Motivos mais que suficientes para o apóstolo determinar que as mulheres cristãs permanecessem com o véu dentro da igreja e, também, para marcar claramente a diferença entre o modo de vestir de homens e mulheres.
 

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