terça-feira, 25 de abril de 2017

                                                         FÉ E LIBERDADE
Sabemos que Jesus demonstrou das mais diversas formas a Sua misericórdia e o Seu amor para com to­das as mulheres que cruzaram o Seu caminho. Mas, Seu exemplo e Suas palavras não encontraram eco no cora­ção dos homens. Eles não conseguiram assimilar a men­sagem, nem entender os sinais. Assim, a mulher conti­nuou amada por Deus e execrada pelo mundo.
Dentre os muitos exemplos registrados no Novo Testamento sobre a ação benevolente de Jesus para com o humilhado e ofendido gênero feminino, além dos já cita­dos, está o da mulher cananeia, (Mateus 15. 21-28) uma estrangeira que, como tal, não era muito bem-vista pelos judeus. Ela buscou o Mestre para pedir a cura da filha en­demoninhada, apesar de os apóstolos terem sugerido que Jesus a mandasse embora, porque vinha gritando atrás deles na rua. Não obstante, Jesus atendeu-a, apesar de ser estrangeira, e o foco de sua missão ser Israel e ter dito: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Is­rael. (v .24b); satisfez o pedido dela, depois de ter testado a sua fé, quando ela clamou: Senhor, socorre-me (v.25). Ele, então, respondeu-lhe: Não é bom pegar no pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos. Ao que ela replicou: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores. (v.26-27). Diante dessa confissão, Jesus acrescenta: Ó, mulher! Grande é a tua fé: seja isso feito para contigo como tu desejas. E desde aquela hora a sua filha ficou sã. (v.28).
Tanto no presente caso, como no episódio da mu­lher hemorrágica, em que mulheres afrontaram os costu­mes e as leis do patriarcado social e eclesiástico, o saldo foi positivo. Responsável por essa vitória, o mover da fé sobrenatural em Cristo ocultava-se sob a aparência de re­beldia, por parte delas. Santa sublevação, pois encontrava eco no coração de Jesus. A Sua palavra nos incentiva a não nos conformar com este mundo, mas, a transformar-nos, renovando a nossa mente, a fim de discernirmos a vontade de Deus. E a fé, certamente, está entre o que é perfeito, bom e agradável a Ele. (Romanos 12.1-2); bem como a liberdade cristã, defendida ardentemente pelo apóstolo Paulo, em seguimento à vontade do Mestre: Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo. Tais como: não toques, não proves, não manuseies? (Colossenses 2.20,21). Se aquelas duas mulheres, a cananéia e a que sofria de hemorragia, se conformassem com os costumes e a religiosidade de seu tempo, certamente, teriam vivido derrotadas. No ní­vel do espírito, as palavras de ordem são: fé e liberdade.
Ao pensar em liberdade, são bem lembradas e opor­tunas as palavras de João Calvino, teólogo e um dos Refor­madores do século 16, quando tratou da liberdade cristã, em um sentido amplo, ou seja, para toda a humanidade:
Cristo, o libertador, libertou a humanidade caída na escravidão do pecado e na escravidão das Instituições humanas tirânicas que usurparam a soberania de Deus. Para Calvino, a liberdade cristã se realiza dentro da hu­manidade restaurada como sinal da presença do reino de Cristo já, no meio de um mundo caído.
Pode parecer estranho citar Calvino neste livro que pugna pela autonomia do gênero feminino, uma vez que ele não se alinha entre os defensores do feminismo. Paradoxalmente, porém, suas idéias dão grande ênfase à liberdade cristã. Nesse sentido, vale a pena encarar o paradoxo e, de posse dos seus conceitos emitidos na fra­se acima, olharmos para o outro lado do mundo, para o Oriente Médio e diversos países asiáticos, onde o impé­rio das leis criadas por “instituições humanas tirânicas” se mostra em plena efervescência ainda hoje. Convenha­mos que, se há um universo onde a soberania de Deus foi ensombreada por leis humanas perversas e tirânicas esse universo é o das mulheres muçulmanas, chinesas e in­dianas só para citar alguns exemplos. Nada muda há in­termináveis séculos para esses povos. Nenhuma abertura se faz na legislação que permita às mulheres respirar um pouco do ar puro da liberdade, à qual todo ser humano tem direito.
Na evidência das palavras e atitudes de Jesus Cristo, livrando do sofrimento e da opressão as mulheres que foram ao Seu encontro ou cruzaram Seu caminho, firma­mos nossa certeza de que a vitória de todos os movimen­tos em prol da emancipação feminina, derivam daquele primeiro impulso libertador por parte Daquele que veio em nome do Senhor. Como contraprova dessa realidade podemos observar a condição de escravização em que se encontram as mulheres nos países não alcançados pelo cristianismo, até hoje, cuja pequena mostra vem a seguir. (continua).

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