SÉCULOS DE RETROCESSO DA IGREJA
Mesmo com a Reforma protestante, não ocorreram mudanças
significativas no modelo patriarcal-clerical da Igreja. A grande mudança
operou-se, evidentemente, no que se refere à fidelidade à palavra de Deus; haja
vista, a famosa exortação de Lutero: Sola Scriptura. Excepcionalmente, porém,
uma mudança significativa sobressai, referente à organização da Igreja.
Trata-se do surgimento da família patriarcal-clerical. A
referida mudança criou um cargo para a mulher - o de esposa de Pastor. Por
intermédio desse cargo, surgiu a oportunidade de prestar maiores serviços no
âmbito da Igreja, na área de ensino e, de maneira meio escamoteada, da pregação
da Palavra, sem que disso se fizesse muito alarde. A mudança, porém, atingiu
umas poucas senhoras frente a uma multidão de mulheres silenciosas e excluídas
dos trabalhos cristãos de liderança, chamadas apenas para trabalhos de menor
responsabilidade.
Outra exceção verificou-se a partir do século 19, ocorrida
entre os Metodistas e os Cristãos da Bíblia, e configurou-se numa grande
abertura – ou reabertura – quando são admitidas pregadoras e realizam-se
eleições para episcopisas, cargo equivalente ao de bispo. Mulheres, então,
passam a integrar a cúpula da organização eclesial metodista. Exceção que
serviu para confirmar a regra da involução das outras denominações, (em comparação
com o trabalho dos primeiros cristãos) no que diz respeito à apatia que tomou
conta da Igreja ao relegar a atividade feminina a segundo plano.
No Brasil, do século 20, com o surgimento das Igrejas
Neo-Pentecostais, a mulher passou a deixar o seu silêncio milenar. Hoje, já se
tem notícia de mulheres exercendo cargo de Pastoras, livres de quaisquer
empecilhos, e atuando nos demais setores da Igreja, graças a Deus! Esse fato
parece confirmar o pensamento da escritora Maria L. Boccia, ao detectar um
padrão comportamental na História da Igreja, que opera da seguinte maneira:
Quando a liderança envolvia a escolha carismática de líderes,
da parte de Deus, mediante a dádiva do Espírito Santo, as mulheres foram
incluídas. Com o passar do tempo, a liderança é institucionalizada, a cultura
patriarcal secular se infiltra na Igreja e as mulheres são excluídas.
Diante do reavivamento
espiritual, característica marcante do movimento pentecostal, sob a direção do
Espírito Santo, é natural que ocorra, especialmente, o que foi preconizado em
Gálatas 3.28. Isto é, graças à unidade dos crentes em Cristo, são quebradas as
barreiras que separam as pessoas, especialmente por questão de gênero.
Durante os séculos de retrocesso da Igreja - em comparação
com o fervor que avivava o primitivo movimento cristão, e ao expressivo
desempenho feminino de então - o silêncio da mulher brasileira, em maior grau que
a das suas irmãs de outros países do Primeiro Mundo, raramente viu-se
quebrado. Vimos, porém, missionárias de outros países virem trabalhar na
evangelização e ensino da Palavra em solo brasileiro; e, ainda que com sotaque
estrangeiro, vozes femininas eram ouvidas dentro da jovem Igreja do Brasil.
Agora, os tempos são outros, a apatia vai ficando para trás, e temos
consciência de que vivemos, realmente, na era da Graça, sob a égide do Espírito
Santo. A mulher brasileira começa a aquecer a voz, por tanto tempo silenciada,
a fim de proclamar a mensagem da cruz. Deus seja louvado!
No entanto, o debate sobre o assunto continua vivo nas
congregações do país, em contraste com a aquiescência há muito obtida na
grande maioria das Igrejas evangélicas da Europa e dos Estados Unidos. Segundo
Duncan Reily, essas instituições religiosas já responderam “sim” às questões:
“Pode a mulher legitimamente ser ordenada sacerdotisa? Pode, portanto, a mulher
licitamente ministrar a Eucaristia?” As respostas afirmativas – há muito
respondidas - contrastam, apenas, com a negativa da Igreja Católica Romana e da
Igreja Ortodoxa, totalmente contrárias ao ministério ordenado da mulher. (CONTINUA).