PRINCÍPIO DE DIREITO VERSUS MORAL CRISTÃ
O importante, então, nos textos de Efésios, bem como em Colossenses,
que tratam do referido assunto, não é a submissão comumente tida como
aviltante, que coloca a esposa em situação de inferioridade, mas, sim, segundo
observam alguns estudiosos, a referência a seguir na frase bíblica: “Como
convém no Senhor” (Colossenses 3.18). O Senhor no comando de todos os aspectos
do relacionamento conjugal; domínio não mais do direito, mas, aí sim, da ética
cristã. Trata-se de mandamento divino; fala-se, então, do amor cristão, daquele
amor marcado pelo dom de si mesmo – do amor ágape, semelhante ao amor de
Cristo, em que a pessoa é capaz de doar sua vida para salvar outra.
Não seria correto confundir um princípio consuetudinário e do
direito, com um princípio fundamental da moral cristã, a fim de manter uma
filha de Deus sujeita ao arbítrio de qualquer cidadão de maus bofes. Quando
Paulo fala, não trata de uma questão de hierarquização grosseira, tal como o
marido manda e a mulher obedece. Atitude bem conforme ao gosto da mentalidade
machista e da interpretação que os cronistas mundanos dão às palavras de Paulo
registradas nos Evangelhos. A jurisprudência e os costumes das sociedades de
antanho ratificavam a discriminação contra a mulher. Hoje, incorre em erro, quem
leva essas palavras ao pé da letra – reconhecendo o seu emprego em qualquer
tipo de casamento. O Senhor não endossa a escravização da mulher pelo marido.
Cristianismo é sinônimo de liberdade. A mulher deve submeter-se à autoridade
do marido verdadeiramente cristão, porque dentro da moral cristã a
relação marido-mulher toma outra forma, por ser estruturada no amor.
Certamente, um sentimento diverso e mais grandioso do que aquele puramente
romântico e carnal.
Trata-se, portanto, de outro texto bíblico, o da submissão da esposa,
interpretado de maneira falaz, para apoiar a tirania contra a mulher, a
subserviência e o servilismo dentro de casa e na sociedade. Muitos maridos, os
mais simples e desavisados chegam a encarar a esposa como uma serviçal, no
sentido literal da palavra. Responsabilidade, injustamente, atribuída, ao
apóstolo Paulo quanto às consequências nefastas que tal interpretação tem
trazido ao fraudar os direitos das mulheres cristãs.
Todavia, responsáveis por esses enganos são as interpretações literais
das cartas paulinas, que só beneficiam os próprios homens. Para eles é
conveniente escorar-se sob a proteção da mentalidade patriarcal para auferir
vantagens e comodidades que esse modo de pensar lhes faculta. Nunca é demais
lembrar que patriarcado tem sido sinônimo de despotismo contra as mulheres.
No momento em que Cristo enviou as mulheres para dar a notícia de sua
Ressurreição, não consta que Ele as tenha mandado primeiro pedir autorização
aos maridos, pais ou responsáveis, para cumprirem a missão. Independência e
autonomia feminina ficaram claramente demonstradas nessa ocasião. Fato que nos
leva a concluir que até mesmo acatando a autoridade do marido, a autonomia
espiritual da esposa cristã, deve ser colocada em primeiro lugar. Convém,
observar, também, que paz e liberdade devem permear o relacionamento entre
marido e mulher, no lar genuinamente cristão.
Em síntese, o amor cristão propõe a questão da seguinte maneira: o
respeito e o amor que a mulher deve ao marido são proporcionais aos que o
marido deve à esposa. Será impossível a uma esposa que compreende a orientação
bíblica – “sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor” - deixar de
reverenciá-lo. A palavra submissão, neste caso, toma um sentido de
reconhecimento, respeito e amor. Nada a ver, portanto, com o significado que
adquiriu no nível mundano, que é de subalternidade: a mulher colocada em
segundo plano, inferior ao homem como um ser de segunda classe. A igualdade
entre as pessoas está no cerne do cristianismo: “Mas, se fazeis acepção de
pessoas, cometeis pecado e sois redarguidos pela lei como transgressores.”(Tiago
2.9). (Continua).
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