OS SÉCULOS DE
RETROCESSO DA IGREJA
Aquela tendência de
pensar a excelência do que é moderno em detrimento do que é antigo mostra-se
inconsistente no que concerne à história da mulher na Igreja. O Novo
Testamento, a arte cristã, as mais diversas fontes históricas e, até mesmo, os
escritos apócrifos atestam que o lugar ocupado por ela, ao lado de Jesus, e
nos primórdios do cristianismo, era tão importante quanto o do homem. Ela
desempenhou as mesmas funções que o homem no quesito liderança, ensino e nas
demais funções do serviço cristão – como já vimos enfatizando, com base nos
estudos realizados por grandes teólogos, durante todo este trabalho.
Na arte cristã do
primeiro e do segundo século, pode-se apreciar o desempenho das mulheres nas
mais variadas atividades ministeriais. Aparecem administrando a Ceia do
Senhor, ensinando, batizando, assistindo aos necessitados e liderando as
orações públicas.
Hoje, contabilizamos
séculos de apatia. À medida que a Igreja foi-se estabelecendo como instituição
religiosa e o fervor espiritual decrescendo, a organização eclesial substituiu
a simplicidade daquele primeiro e poderoso avivamento da primeira congregação
cristã. A hierarquização trouxe a separação entre irmãos e irmãs, em lugar do
primeiro amor - aquele sentimento poderoso que marca o início da nossa
caminhada com Cristo. Sentimento que estava faltando, também, à igreja de Éfeso
em certa época de sua história. Tema que suscitou a advertência do apóstolo
João, a mando de Jesus Cristo, na primeira das cartas dirigidas às Sete Igrejas
da Ásia: Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te
pois donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não,
brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres
.(Apocalipse 2. 4, 5). Os homens tomaram para si os papéis de liderança, e às
mulheres restaram atribuições secundárias. Aos poucos, elas foram silenciando
e durante séculos a Igreja deixou de ouvir a sua voz.
Mesmo com a Reforma
protestante, não ocorreram mudanças significativas no modelo
patriarcal-clerical da Igreja. A grande mudança operou-se, evidentemente, no
que se refere à fidelidade à palavra de Deus; haja vista, a famosa exortação de
Lutero: Sola Scriptura. Excepcionalmente, porém, uma mudança significativa
sobressai, referente à organização da Igreja. Trata-se da substituição do
celibato pela família patriarcal-clerical. A referida mudança criou um cargo
para a mulher - o de esposa de Pastor. Por intermédio desse cargo, surgiu a
oportunidade de prestar maiores serviços no âmbito da Igreja, na área de
ensino e, de maneira meio escamoteada, da pregação da Palavra, sem que disso
se fizesse muito alarde. A mudança, porém, atingiu umas poucas senhoras frente
a uma multidão de mulheres silenciosas e excluídas dos trabalhos cristãos de
liderança, chamadas apenas para trabalhos de menor responsabilidade.
Outra exceção
verificou-se a partir do século 19, ocorrida entre os Metodistas e os Cristãos
da Bíblia, e configurou-se numa grande abertura – ou reabertura – quando são
admitidas pregadoras e realizam-se eleições para episcopisas, cargo equivalente
ao de bispo. Mulheres, então, passam a integrar a cúpula da organização
eclesial metodista. Exceção que serviu para confirmar a regra da involução das
outras denominações, (em comparação com o trabalho dos primeiros cristãos) no
que diz respeito à apatia que tomou conta da Igreja ao relegar a atividade
feminina a segundo plano.
No Brasil, do século
20, com o surgimento das Igrejas Neo-Pentecostais, a mulher passou a deixar o
seu silêncio milenar. Hoje, já se tem notícia de mulheres exercendo cargo de
Pastoras, livres de quaisquer empecilhos, e atuando nos demais setores da
Igreja, graças a Deus! Esse fato parece confirmar o pensamento da escritora
Maria L. Boccia, ao detectar um padrão comportamental na História da Igreja,
que opera da seguinte maneira:
Quando a liderança
envolvia a escolha carismática de líderes, da parte de Deus, mediante a dádiva
do Espírito Santo, as mulheres foram incluídas. Com o passar do tempo, a
liderança é institucionalizada, a cultura patriarcal secular se infiltra na
Igreja e as mulheres são excluídas.
Diante de um
reavivamento espiritual, característica marcante do movimento pentecostal, sob
a direção do Espírito Santo, é natural que ocorra, especialmente, o que foi
preconizado em Gálatas 3.28. Isto é, graças à unidade dos crentes em Cristo,
são quebradas as barreiras que separam as pessoas, especialmente por questão
de gênero.
Durante os séculos de
retrocesso da Igreja - em comparação com o fervor que avivava o primitivo movimento
cristão, e ao expressivo desempenho feminino de então - o silêncio da mulher
brasileira, em maior grau do que a das suas irmãs de outros países do Primeiro
Mundo, raramente viu-se quebrado. Vimos, porém, missionárias de outros países
virem trabalhar na evangelização e ensino da Palavra em solo brasileiro; e,
ainda que com sotaque estrangeiro, vozes femininas eram ouvidas dentro da
jovem Igreja do Brasil. Agora, os tempos são outros, a apatia vai ficando para
trás, e temos consciência de que vivemos, realmente, na era da Graça, sob a
égide do Espírito Santo. A mulher brasileira começa a aquecer a voz, por tanto
tempo silenciada, a fim de proclamar a mensagem da cruz. Deus seja louvado!
No entanto, o debate
sobre o assunto continua vivo nas congregações do país, em contraste com a
aquiescência há muito obtida na grande maioria das Igrejas evangélicas da
Europa e dos Estados Unidos. Segundo Duncan Reily, essas instituições
religiosas já responderam “sim” às questões: “Pode a mulher legitimamente ser
ordenada sacerdotisa? Pode, portanto, a mulher licitamente ministrar a
Eucaristia?” As respostas afirmativas – há muito respondidas - contrastam,
apenas, com a negativa da Igreja Católica Romana e da Igreja Ortodoxa,
totalmente contrárias ao ministério ordenado da mulher.