O SENHOR JESUS ABENÇOA AS MULHERES
Observemos os passos em que se desenvolveram as ações de Jesus em benefício da mulher. Dentre as atitudes tomadas no sentido de que os seus direitos fossem ampliados e equiparados aos do homem, fundamentamo-nos nos seguintes episódios, ocorridos durante o Seu ministério terreno:
1) No perdão da mulher
adúltera. Acontecimento que pode ser considerado, repetimos, como o marco zero
do processo de libertação do gênero feminino, por Jesus Cristo. Nesse episódio
emblemático da história da mulher no relato do Novo Testamento, o nome da
adúltera não é revelado. Ao procurar identificá-la, muitas pessoas, enganam-se
porque pensam tratar-se de Maria Madalena o que, segundo o texto bíblico, não
é verdade.
2) Na cura e no perdão,
pela sua audaciosa atitude, da mulher que padecia com um fluxo de sangue, havia
doze anos, e que tocou nas vestes de Jesus crendo que, com esse gesto, seria
curada. Ela infringiu um preceito da lei mosaica, a qual considerava imunda a
pessoa que estivesse sofrendo de qualquer tipo de hemorragia. Enquanto
estivesse nesse estado não lhe era permitido sequer tocar em outra pessoa (Lc
8: 43 – 48; Mt 9.20; Mc 5.25). Mas, Jesus, deixando falar mais alto o
sentimento de misericórdia que lhe era peculiar, ao vê-la apresentar-se à Sua
frente trêmula e amedrontada, em resposta à Sua pergunta: Quem é que me tocou?
Disse-lhe: Tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou; vai em paz.
3) No perdão da
“pecadora” que ungiu os pés de Jesus, em público, durante o jantar na casa do
fariseu chamado Simão. (Lc 7: 36 - 50). A quem Jesus disse: Os teus pecados te
são perdoados... e, ao despedi-la, acrescenta: A tua fé te salvou: vai-te em
paz. (vv.48 e 50).
No capítulo Ato das
Apóstolas, falarei mais sobre esse episódio - da “pecadora” - ao fazer menção a
Maria Madalena com a qual costumam, também, confundi-la.
4) Na libertação de
Maria Madalena, a qual era oprimida por espíritos malignos. Jesus expulsou dela
sete demônios (Lc 8:2). Aceitou-a como cooperadora em Seu ministério, o que
significa dizer, como discípula; e não consta que tivesse feito qualquer
ressalva quanto à sua atuação, no meio de seus seguidores, que pudesse ser vista
como discriminatória.
5) Na conversa que
Jesus teve com a mulher samaritana, o que a levou a divulgar, entre o seu povo
a notícia de que avistara o Cristo, uma verdadeira revelação sobre a
messianidade de Jesus. Saliente-se que os judeus eram inimigos dos samaritanos,
aos quais sequer dirigiam a palavra, porém, Jesus ignorou a questão, quebrando
mais esse costume. (João 4: 4 a 29). O resultado desse diálogo foi que as boas
novas do Evangelho foram proclamadas e aceitas, pela primeira vez em Samaria,
pela palavra dessa mulher.
6) Na compaixão que
demonstrou à viúva de Naim, ao vê-la chorando durante o cortejo fúnebre que
levava seu filho morto. (Lc 7. 11-17). E, vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima
compaixão por ela, e disse-lhe: Não chores. E, chegando-se, tocou o esquife (e
os que o levavam pararam), e disse: Jovem, a ti te digo: Levanta-te. E o
defunto assentou-se, e começou a falar. E entregou-o a sua mãe (v.13-15). Uma
simples viúva, pessoa insignificante diante de uma sociedade que desprezava a
mulher, e na qual a pouca honra que ainda merecia era segundo a sua condição de
mãe e esposa. Condições das quais a viúva de Naim se vira despojada, pois,
como afirma o texto, havia perdido o seu filho único. Socialmente falando, a
mulher seria classificada como fazendo parte da ralé, pois, não possuía mais nenhum
dos valores reconhecidos por aquela sociedade machista. Ao socorrê-la, o Nazareno
mostra que valioso mesmo é o ser humano como tal, e não sua condição
sócio-econômica ou seus dotes físicos ou intelectuais. A Bíblia nos fala sobre
a marcante diferença da visão de Deus em comparação com a nossa maneira de ver:
Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos
caminhos os meus caminhos. (Is. 55.8).
7) No reconhecimento do
mérito de Maria, de Betânia - irmã de Marta e de Lázaro - por querer ouvi-lo,
a qual, assentando-se aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. (Lc 10.39b). Em
gritante contraste com a atitude dos rabinos os quais, de forma alguma,
aceitariam ensinar a uma mulher as palavras da Lei, Jesus dignou-Se a fazê-lo.
E, à sua irmã Marta, que a repreendia por não estar ajudando no serviço
caseiro, exorta: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas. Mas
uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será
tirada.(Lc 10. 41- 42).
8) Na aceitação
inconteste, por parte de Jesus da presença feminina em Seu ministério, durante
todo o tempo em que o exerceu aqui na terra. Atitude totalmente contrária aos
costumes judaicos – verdadeira afronta. Como já sabemos, os rabinos
discriminavam e desprezavam as mulheres, e os homens não falavam com uma mulher
em público. A importância dessa questão era tão grande naquela sociedade, que o
texto bíblico registra o espanto que causou, aos próprios discípulos, o
episódio da conversa de Jesus com a samaritana, (Jo. 4.27). Atitudes que
mostram a quebra de paradigmas sociais e religiosos. Ele desafiou,
serenamente, os costumes e as leis que eram implacáveis para com os delitos ou
pecados da mulher; e que, perversas, limitavam a sua liberdade pessoal.
Outrossim, não se tem
notícia de que o Senhor lhes tenha imposto qualquer norma de conduta ou
restrição comportamental para poderem acompanhá-lO durante o Seu ministério. Ao
que tudo indica, elas tinham plena liberdade de ir e vir, assim como tinham
respeitadas as suas iniciativas pessoais, inspiradas pela fé.
A teóloga, Mary Evans,
fala sobre a pouca diferença no modo de Jesus tratar homens e mulheres:
As mulheres, tal como
os homens foram consideradas responsáveis por suas próprias decisões e capazes
de entender as coisas espirituais. Elas foram igualmente livres para conversar,
seguir, ser amigas e servir a Jesus. Ele ensinou que homens e mulheres são
capazes de se relacionar de outro modo além do relacionamento especificamente
sexual. E estes ensinamentos foram reiterados nas epístolas e vividos pela
igreja, a qual era uma comunidade de homens e mulheres procurando seguir ao
Senhor juntos.
9) Na defesa que fez de
Maria, em Betânia, por ocasião da ceia, em sua casa, da qual participavam,
também, seus irmãos Lázaro (o qual Jesus ressuscitara) e Marta. Então Maria,
tomando um arrátel de unguento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de
Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do perfume
do unguento. (Jo 12.3). Então, Judas Iscariotes, reclamou do desperdício do
gasto com o perfume que poderia ser vendido por trezentos dinheiros e dado aos
pobres. Mas, o texto de João 12. 1-11 esclarece que Judas, o que haveria de
trair e vender Jesus falava, não por amor aos pobres, mas, porque era ladrão e,
sendo o tesoureiro tirava “da bolsa” o que ali era depositado – certamente,
lamentando a perda dos trezentos dinheiros que deixaria de roubar. Então, o
Salvador toma a defesa de Maria e diz: Deixai-a; para o dia da minha sepultura
guardou isto; porque os pobres sempre os tendes convosco; mas a mim nem sempre
me tendes. (v.7,8).
E, coroando o gesto libertador, o Filho de
Deus escolhe Madalena e o grupo de mulheres que a acompanhava como as
primeiras testemunhas da ressurreição, emissárias e proclamadoras desse evento
inaudito e glorioso.
Contudo, a escolha de
Maria Madalena para liderar essa missão desafia nossa compreensão. Por que ela
e não qualquer um dos outros apóstolos ou apóstolas? A resposta, naturalmente,
vem sob a forma de conjectura: teria sido para estabelecer um paralelo entre
duas mulheres que carregaram sobre suas vidas o peso de uma maldição? Eva e
Madalena? Seria uma representação, da parte de Jesus Cristo, da quebra da
maldição sob a qual vivera a primeira mulher e que pesava, ainda, sobre todo o
gênero feminino? Hipótese aventada ao observarmos que Madalena, também, fora
vítima de maldição em forma de opressão demoníaca, mas, liberta e renascida da
água e do Espírito passou a seguir a Jesus. Seu passado não contava mais, do
mesmo modo que o pecado de Eva fora resgatado. Inaugurava-se a era da graça,
tempo da independência espiritual de todo o gênero feminino (tanto quanto do
masculino). Madalena – protótipo da primeira mulher da era cristã – contraposta
a Eva, a primeira mulher da antiga criação. Assim sendo, somente restaria a
todos exclamar: Bem-aventurados os olhos que vêem o que nós vemos.
Esta observação, sobre
o porquê da escolha de Maria Madalena, insistimos, pertence ao nível das
conjecturas. Todavia, no terreno das certezas, constatamos que todas as
palavras de Jesus, ao tratar dos assuntos pertinentes ao universo feminino, bem
como Seus gestos cheios de compaixão e compreensão para com as mulheres, apontavam
para um final feliz. Para a quebra das cadeias que as mantinham subjugadas sob
a maldição de Eva, e oprimidas sob o peso da Lei e do preconceito dos homens. (CONTINUA).