CONSIDERAÇÕES SOBRE O ÓDIO
Rachel Winter
Certa vez, encontrava-me num ônibus lotado e, naquele
sufoco, fiquei irritada com as cotoveladas e grosserias de algumas
pessoas, que não se afastavam um milímetro para facilitar a
passagem dos outros. E porque os que estavam em frente às portas não
recuavam um mínimo que fosse, dificultando muito a saída.
Tive, então, uma reação curiosa – muitos podem até
achar engraçada dada as circunstâncias em que me encontrava - pois,
pensei: foi por todos estes que Cristo morreu. O que me levou a
concluir, também, que a irritação momentânea ou habitual contra
as pessoas é um caminho aberto em direção ao ódio. Assim como
aquele defeito muito difundido de analisar a as pessoas pela
aparência: uma porque é gorda, outra porque é magra ou tem o nariz
grande, é baixinha ou alta demais, é mal-encarada ou mal-educada,
tem os dentes horríveis, ou por causa da cor, e assim por diante.
Sentimentos que se constituem em sementes do mal posto que poderão
dar origem a frutos malignos se não vigiarmos, como manda a Palavra
de Deus, a qual dá ênfase à pureza do nosso olhar: A candeia do
corpo são os olhos; de sorte que, se teus olhos forem bons, todo o
teu corpo terá luz. Se, porém, forem maus, o teu corpo será
tenebroso. (Mateus 6. 22, 23a).
Por sua vez, a Lei Civil classifica tais atitudes como
preconceito. Mas, a Lei humana (imperfeita como tudo o que é
humano), nada pode fazer para extirpar esse mal do coraçãodo homem.
Além de deixar muitas lacunas, por exemplo, na proteção contra o
preconceito no caso das pessoas bonitas, inteligentes, cultas ou
ricas. Parece incrível, mas, existe preconceito. Inclusive contra
os que fazem sucesso e são famosos. Caetano Veloso disse, certa vez,
que fazer sucesso no Brasil é crime. E ele sabe do que está
falando.
A implicância contra essas pessoas chega a ponto de
torná-los vítimas de perseguição no ambiente de trabalho ou nas
escolas. Perseguições que ganharam até nome próprio. No primeiro
caso, assédio moral e, no segundo, bulling.
É o "olho mau" em ação constante e que não
para por aí. Vejamos os dois lados da questão. Se alguém, seja
homem ou mulher, apresenta uma aparência deselegante e pobre as
pessoas torcem o nariz em sinal de desprezo; porém, se é elegante e
bonita, muitas empinam o nariz, murmurando : pensa que é grande
coisa...
É bastante evidente os maus olhares que as pessoas
trocam nos eventos sociais ou em qualquer outra circunstância, até
mesmo na família. Há uma prevenção maligna generalizada contra
o outro. Por que isso acontece? A bendita Palavra de Deus fala
da necessidade de amar o próximo como a si mesmo. Trata-se do
segundo Mandamento citado por Jesus Cristo, na ocasião em que uma
pessoa, um escriba, perguntou-lhe qual seria o primeiro de todos os
Mandamentos. Jesus respondeu: Amarás o SENHOR teu Deus de todo o teu
coração, de toda a tua alma, de todo teu entendimento e com toda a
tua força. O segundo é este: Amarás o teu próximo como a ti
mesmo. (Marcos 12. 28 a 31).
Como, então, olhar o nosso próximo com o olhar
turvado pelo preconceito, pela raiva e pela superficialidade? Esse,
certamente, é um caminho tortuoso e que apresenta muitos perigos.
Tende a nos impedir de amar o próximo. Parece pouca coisa,
insignificância. Mas, não é. Seus desvios podem levar ao desamor,
à raiva e ao ódio. E é seríssima a acusação que lemos na
Bíblia sobre esse sentimento terrível que é o ódio: Todo
aquele que odeia o seu irmão é homicida e sabeis que nenhum
homicida tem a vida eterna permanecendo nele. (1 João 3. 15). Fica
bem claro que, para ser considerado assassino, não precisa chegar ao
fato. Aliás, antes de pôr em prática o crime propriamente dito, o
criminoso já o praticou em pensamento, pois, do pensamento precedem
todos os nossos atos, bons ou maus.
Observando a situação de criminosos reais e já
condenados pela Justiça, observa-se o quanto o ódio foi devastador
na vida deles. Ao acabarem com a vida de quem odiavam tiveram as suas
próprias vidas completamente arruinadas. Tornaram-se prisioneiros e
miseráveis. Sabemos que jogadores de futebol, esportistas, artistas
famosos e outras tantas celebridades que levavam uma vida milionária,
gozavam de admiração e respeito na sociedade, perderam tudo,
conforto, sucesso e muito mais ao deixarem-se arrastar por esse
sentimento devastador que é o ódio. Tornaram-se execráveis perante
a sociedade que antes os admirava. Até mesmo dentro das famílias,
pais ou mães que mataram seus filhos e filhos que mataram seus pais,
encontra-se gente de nível social elevado, muitos deles cultos, com
diplomas de nível superior e que, de uma hora pra outra, viram-se
arruinados financeira e moralmente, porque se deixaram levar por esse
sentimento maligno.
Por que não trocar o ódio pelo amor? O alcance dessa
mudança de rota levará o caminhante a percorrer aquele "Alto
caminho, um caminho que se chama O Caminho Santo; o imundo não
passará por ele, mas será para o povo de Deus; os caminhantes até
mesmo os loucos não errarão." (Isaías 35. 8). E, por onde o
imundo não passa não há destruição, nem desolação nem se
acabam os sonhos de felicidade, alegria e paz, muito menos vidas são
ceifadas, ou devastadas.